Estudo prevê perda de centenas de meteoritos na Antártica

Milhares de meteoritos na Antártica correm o risco de afundar no gelo e serem perdidos para sempre devido ao aquecimento global
Ana Luiza Figueiredo09/04/2024 15h44, atualizada em 09/04/2024 15h48
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Região da Antártica onde os cientistas coletam meteoritos. (Imagem: José Jorquera / Universidad de Santiago de Chile)
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Na vastidão congelada da Antártica, um tesouro cósmico permanece oculto sob o gelo — meteoritos intocados, remanescentes de colisões celestes, que guardam segredos sobre o universo. No entanto, uma previsão paira sobre essas enigmáticas rochas espaciais.

De acordo com um estudo recente publicado na Nature Climate Change, milhares desses meteoritos correm o risco de serem perdidos para sempre à medida que afundam mais profundamente no gelo antártico devido ao aumento das temperaturas causado pelas mudanças climáticas induzidas pelo homem.

Os meteoritos

Ao longo de milhões de anos, a Antártica foi bombardeada por meteoritos, muitos dos quais acabaram enterrados na imensidão gelada. No entanto, em certas regiões conhecidas como “áreas de gelo azul”, as forças implacáveis do vento e da luz solar gradualmente libertam esses meteoritos aprisionados. Apesar de cobrirem apenas 1% da área superficial do continente, essas áreas de gelo azul oferecem algumas das melhores perspectivas para os caçadores de meteoritos.

Atualmente, cerca de 50.000 meteoritos foram descobertos na Antártica, representando uma parte significativa da coleção mundial conhecida de meteoritos. Essas rochas espaciais, algumas não maiores do que uma polegada, enquanto outras tão maciças quanto 17 libras (aprox. 8 kg), servem como janelas inestimáveis para o passado cósmico. Preservadas dentro do gelo antártico, oferecem aos cientistas exemplares imaculados para análise, livres da contaminação comum aos meteoritos encontrados em outras regiões.

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Meteorito encontrado na Antártica. (Imagem: Katherine Joy / Universidade de Manchester, Projeto Meteoritos Perdidos da Antártica)

Ameaça atual

  • Segundo o estudo, as próprias forças que desenterram esses meteoritos de seus túmulos de gelo também ameaçam consumi-los.
  • À medida que as temperaturas sobem, os meteoritos de cor escura absorvem a luz solar, aquecendo e derretendo o gelo circundante, fazendo-os afundar mais profundamente na vastidão antártica.
  • No passado, tais eventos eram raros, mas com os impactos crescentes das mudanças climáticas, a taxa de afundamento de meteoritos acelerou.
  • Usando técnicas avançadas de aprendizado de máquina, os pesquisadores estimaram que até 850.000 meteoritos podem atualmente estar na superfície ou perto das áreas de gelo azul da Antártica.
  • Alarmantemente, acredita-se que até 5.000 dessas rochas espaciais estejam afundando além do alcance a cada ano, superando em muito a taxa de descoberta pelos cientistas.

Implicações do afundamento

Mesmo sob cenários de aquecimento conservadores, um quarto dos meteoritos da Antártica poderia ser perdido até o final do século. No entanto, diante de projeções de aquecimento mais extremas, esse número poderia disparar para três quartos, potencialmente eliminando uma parte significativa deste valioso arquivo cósmico.

À medida que o relógio avança na preservação desses artefatos cósmicos, ação urgente é necessária para mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger os meteoritos escondidos da Antártica. O fracasso em fazê-lo arrisca não apenas a perda de espécimes individuais, mas também os insights inestimáveis que eles proporcionam sobre as origens e a evolução do nosso sistema solar.

Nas palavras dos autores do estudo, “O tempo está se esgotando para coletar essas rochas espaciais e preservar as informações que cada amostra adicional contém.” É uma corrida contra o tempo para salvar os meteoritos escondidos da Antártica antes que desapareçam nas profundezas do gelo, levando consigo seus segredos cósmicos.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.