Enchentes no RS: vida aquática é impactada e espécies em extinção correm risco

Especialistas acreditam na recuperação das espécies aquáticas do Estado, mas animais em extinção correm risco maior
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Rodrigo Mozelli 14/05/2024 21h42
enchente-rs-1
Imagem: Reprodução/Defesa Civil RS
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Assim como a fauna e flora terrestre, espécies aquáticas do Rio Guaíba, como peixes e anfíbios, também serão impactadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul (RS). Pesquisadores fizeram avaliação da situação para a Agência Brasil, classificando o caso como “devastador”, mas apostam na resiliência dos animais para se adaptar em alguns anos. Os casos mais preocupantes são espécies que já estavam em extinção.

Impacto das enchentes do RS nas espécies aquáticas

  • Roberto Reis, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da Pontifícia Universidade Católica do estado (PUC-RS), foi um dos pesquisadores consultados pela Agência;
  • Ele revelou como peixes, incluindo espécies exóticas como piranhas e tilápias, são vistos mortos ou nadando nas ruas de Porto Alegre após a cheia do Rio Guaíba;
  • Reis explica que há dois panoramas. O primeiro é na serra, onde os rios acumulam a água da chuva e, em uma torrente, arrastam cidades e a fauna junto. Nisso, os peixes e anfíbios são deslocados de seus habitats;
  • O segundo caso acontece nas planícies, onde estão alguns dos municípios afetados, como Porto Alegre (RS), São Leopoldo (RS), Eldorado do Sul (RS) e Canoas (RS). Nessa situação, os rios chegam aos lagos, que crescem, inundam e fazem a fauna se espalhar;
  • O resultado é que, quando a água começar a baixar, os animais deslocados nos dois casos acabarão morrendo ou ficando presos.

Leia mais:

Imagem para ilustrar matéria sobre a crise no Rio Grande do Sul
Imagem: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Espécies aquáticas devem se recuperar com o tempo

Roberto Reis destaca a resiliência das espécies, além de que deve demorar entre um a dois anos para que a vida aquática seja recuperada.

Certamente, [a enchente] tem impacto grande, mas os animais, em especial, peixes e anfíbios, se reproduzem rapidamente e recolonizam as áreas afetadas.

Roberto Reis, em entrevista à Agência Brasil

Porém, há outros riscos, como a introdução de espécies que não são nativas do ecossistema. Isso aconteceu quando ao menos dez espécies de piranhas foram parar no Guaíba após inundações na irrigação de lavouras de arroz no Uruguai.

A situação pode acontecer novamente com os peixes cultivados em tanques de água doce, como tilápias e carpas. Com a inundação, elas se misturaram a outras espécies, mas não voltarão aos tanques e não sobreviverão se pararem no mar.

Sapinho-admirável-de-barriga-vermelha é uma das espécies em risco (Imagem: UFRSG)

Adaptação vai depender da recuperação do RS

Já de acordo com o coordenador do Laboratório de Biologia da Conservação do Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professor Demétrio Luis Guadagnin, a fauna e flora aquática são adaptáveis e a recuperação dependerá de cada espécie.

Isso porque os efeitos das próprias enchentes no RS são diversos. Alguns locais, como as planícies, já estão adaptados às flutuações dos níveis da água e devem se recuperar rapidamente, algo que se reflete nas espécies aquáticas e plantas.

Já na região serrana, a vegetação e fauna são típicas da margem, locais que acabam sendo degradados pela ocupação humana. Nesse caso, a fauna e flora não têm esses mecanismos e também devem demorar a se recuperar. Porém, segundo Guadagnin, isso vai acontecer.

A situação é pior nos casos de espécies aquáticas do RS que tinham populações menores e pouca capacidade de reprodução. As ameaçadas de extinção, por exemplo, deverão ser um problema. É o caso do sapinho-admirável-de-barriga-vermelha, os lambaris e a planta Callisthene inundata.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.