A reconstrução das cidades afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul (RS) terá de considerar algo importante: as mudanças climáticas em andamento. Essa é a avaliação do José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Nacionais (Cemaden).

O pesquisador mencionou a possibilidade de realocar municípios para locais diferentes e destacou os baixos investimentos em prevenção de desastres climáticos.

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Reconstrução do RS terá de pensar nas mudanças climáticas

O debate aconteceu na última terça-feira (21), durante um evento realizado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).

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Nele, Marengo destacou como as cidades afetadas pelas chuvas no RS terão de considerar as mudanças climáticas na hora da reconstrução. Isso inclui até realocar municípios.

Para ele, o desastre mostrou como as cidades brasileiras não estão prontas para lidar com esses eventos extremos, que serão cada vez mais comuns.

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Estamos falando de um Estado poderoso, com indústria e agricultura fortes, então qualquer cidade está sujeita.

José Marengo
Visão aérea de enchente em cidade no Rio Grande do Sul
Visão aérea de enchente em cidade no Rio Grande do Sul (Imagem: Gustavo Mansur/Palácio Piratini)

Reconstrução atrai mais dinheiro do que prevenção — e isso é um problema

  • O pesquisador revelou que os processos de reconstrução das cidades afetadas no RS atraem muito dinheiro. Já as medidas de prevenção não são tão populares e começam em uma administração para terminar em outra (com a seguinte levando o crédito);
  • No entanto, os desastres não acontecem do nada. Marengo destaca como a chuva em si não é o problema e que a tragédia vem de uma combinação de fatores que inclui vulnerabilidade e exposição da população. Isso, por sua vez, nada tem a ver com as mudanças climáticas;
  • O risco é apenas reforçado pelos fatores climáticos;
  • Ariaster Chimeli, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), que também esteve no evento, falou sobre os impactos das chuvas na economia, como o aumento do preço dos alimentos, consequência das safras irregulares.
Pessoa andando em enchente no Rio Grande do Sul
Inmet já emitiu alertas que a chuva no RS deve continuar (Imagem: Gustavo Mansur/Palácio Piratini)

Mudanças deverão ser feitas para o futuro do RS

Segundo a Agência Fapesp, durante o evento, o climatologista Carlos Nobre lembrou como modelos climáticos anteriores já previam intensificação nas chuvas no RS. As temperaturas em alta também são um risco.

Pedro Jacobi, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, lembrou que mais de mil cidades no Brasil podem ser afetadas pelas mudanças climáticas — e de formas diferentes. Ou seja, na hora da reconstrução, as cidades gaúchas não poderão repetir os erros do passado.

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Para ele, o caminho é implementar políticas que garantam o desenvolvimento urbano e que mitiguem os efeitos e se adaptam às mudanças climáticas.

Já para Nobre, as metas de emissões de carbono devem ser revistas para abarcar as temperaturas em alta constante, que tem impacto direto nas mudanças climáticas.

Thelma Krug, vice-presidente do IPCC até 2022 e membro do Conselho Superior da FAPESP, propôs a produção de mais dados sobre o Sul global para auxiliar na tomada de decisões nesses casos (e antes deles, para preveni-los).