Conforme noticiado pelo Olhar Digital, a missão Chang’e-6, da China, conseguiu pousar com sucesso no lado oculto da Lua, onde já está coletando amostras para envio à Terra – algo nunca antes feito por qualquer país do mundo.

Na manhã de domingo (pelo fuso-horário de Pequim), o módulo de pouso e o ascendente da missão transmitiram seu primeiro lote de dados após a chegada. Esse feito foi facilitado pelo satélite de retransmissão Queqiao-2, que assegurou uma comunicação estável com os controladores na Terra.

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A Chang’e-6 pousou suavemente na cratera Apollo, situada dentro da Bacia do Polo Sul-Aitken (SPA). O processo de pouso consistiu em seis etapas: desaceleração, ajuste rápido, aproximação, pairar, evasão de obstáculos e descida lenta, somando aproximadamente 15 minutos.

Essa imagem, tirada de uma animação do Centro de Controle Aeroespacial de Pequim, mostra o módulo de pouso de Chang’e 6 chegando à superfície do lado oculto da Lua.

Como foi o pouso da sonda Chang’e na Lua

Primeiro, a desaceleração ocorreu a cerca de 16 km da superfície lunar, com a sonda ajustando seu ângulo para ficar quase perpendicular à superfície. Durante a descida, um sistema autônomo de prevenção de obstáculos detectou perigos automaticamente, enquanto uma câmera de luz visível identificava uma área de pouso segura.

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Ao se aproximar entre dois e três quilômetros da superfície, a sonda usou sensores ópticos para escanear a área de pouso. Em seguida, pairou, permitindo que sensores selecionassem um local adequado para que suas quatro pernas pudessem pousar uniformemente, evitando obstáculos.

A menos de 30 metros da superfície lunar, a sonda iniciou sua descida lenta, reduzindo a velocidade para dois metros por segundo até tocar suavemente a Lua. Li Xiaoning, engenheiro do Centro de Controle Aeroespacial de Pequim, afirmou à China Central Television (CCTV) que o processo de pouso foi bem-sucedido e criou um ambiente favorável para a coleta de amostras.

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A missão Chang’e-6 visa realizar tecnologias de amostragem inteligente e rápida, além de decolagem e subida do lado oculto da Lua. “A missão é bastante desafiadora, principalmente devido à necessidade de estabelecer comunicações de retransmissão entre a Terra e o lado oculto da Lua”, disse Li. O satélite de retransmissão Queqiao-2, lançado anteriormente, foi fundamental como suporte de comunicação.

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Sucesso da China pode fornecer base para futuras missões de amostragem

Ge Ping, vice-diretor do Centro de Exploração Lunar e Engenharia Espacial da Administração Espacial Nacional da China (CNSA), afirmou que a amostragem inteligente e rápida, juntamente com a decolagem e ascensão da Lua, estabelecem uma base sólida para futuras tecnologias de pouso e amostragem em corpos extraterrestres.

O módulo de pouso Chang’e-6 deve concluir a coleta de amostras lunares em dois dias. A espaçonave utiliza uma broca para amostras subsuperficiais e um braço robótico para amostras de superfície. Espera-se que essas habilidades aprimoradas sejam aplicadas futuramente na missão chinesa de retorno de amostras de Marte

O local de pouso na Bacia do SPA é de grande interesse científico, com uma história geológica mais antiga devido a impactos prolongados. A área também oferece boas condições de comunicação e telemetria. Ye Peijian, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências, destacou que essa é a primeira vez que se recuperam amostras do lado oculto da Lua, representando um avanço significativo e um enorme desafio.

Entre os instrumentos que a missão Chang’e-6 carrega para pesquisa científica, estão uma câmera de primeiro plano, um dispositivo de análise espectral mineral e um detector estrutural. Também a bordo estão várias cargas úteis internacionais, como um detector da França, um analisador de íons negativos da Agência Espacial Europeia (ESA) e um refletor de ângulo a laser da Itália. 

Desde o lançamento em 3 de maio, a missão Chang’e-6 completou a transferência Terra-Lua, a frenagem perto da Lua, a entrada na órbita lunar e a descida de pouso. A combinação de módulo de pouso e ascendente separou-se do orbitador-retornador na quinta-feira (30).

Imagem do lado oculto da Lua feita pelos astronautas da Apollo 17
Imagem do lado oculto da Lua feita pelos astronautas da Apollo 17. Crédito: NASA

Após as tarefas de perfuração e coleta, o ascendente irá decolar da Lua, conectando-se ao retornador em órbita para transferir as amostras. O retornador então trará as amostras para a Terra, com pouso previsto para 25 de junho.

O material será examinado em um laboratório em Pequim, com um catálogo de amostras Chang’e-6 a ser publicado posteriormente. A missão Chang’e 6 segue o perfil da missão Chang’e 5 de 2020, que trouxe 1.731 gramas de materiais lunares – mas, do lado visível da Lua.

Jim Head, autoridade de exploração lunar da Universidade Brown, destacou a importância das operações da Chang’e 6, afirmando que elas ajudarão a responder a questões sobre a origem e evolução da Lua. Essas missões são essenciais, ainda, para os planos da China de pousar taikonautas na Lua e realizar amostragens de Marte.