Dados recentes da espaçonave Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), revelam que a Via Láctea pode ter devorado uma pequena galáxia muito mais recentemente do que se pensava. 

Resumidamente, as colisões galácticas, que moldaram a Via Láctea ao longo do tempo, parecem ter ocorrido bilhões de anos depois do que os cientistas anteriormente acreditavam.

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Satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), que descobriu que a nossa galáxia colidiu com outra mais recentemente do que se imaginava. Crédito: Ccarreau – ESA

Colisões e rugas galácticas da Via Láctea

A Via Láctea cresceu e se desenvolveu através de uma série de colisões violentas, por meio das quais galáxias menores foram destruídas pela imensa gravidade da nossa galáxia.

Essas colisões distribuíram estrelas das galáxias devoradas pelo halo que circunda o disco principal da galáxia, criando “rugas” que afetam diferentes grupos de estrelas de maneiras distintas.

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O telescópio Gaia tem a capacidade de identificar a posição e o movimento de mais de 100 mil estrelas locais do Sistema Solar. Com isso, a missão recontar a história da nossa galáxia analisando suas rugas. “Ficamos mais enrugados à medida que envelhecemos, mas nosso trabalho revela que o oposto é verdadeiro para a Via Láctea. É uma espécie de Benjamin Button cósmico, ficando menos enrugado com o tempo”, disse Thomas Donlon, pesquisador do Instituto Politécnico Rensselaer e da Universidade do Alabama, nos EUA, e principal autor do estudo – publicado em maio na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

A Via Láctea e seu halo de estrelas, muitas das quais foram obtidas por meio de colisões com outras galáxias. Créditos: ESA/Gaia/DPAC, T Donlon et al. 2024; Fundo Via Láctea e Nuvens de Magalhães: Stefan Payne-Wardenaar

Essas rugas galácticas foram descobertas por Gaia em 2018 e, pela primeira vez, foram extensivamente pesquisadas para revelar o momento da colisão que as criou. O halo da Via Láctea é povoado por estrelas com órbitas estranhas, muitas das quais são remanescentes de galáxias que a nossa galáxia devorou no passado.

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Última grande fusão é detectada

Os cientistas acreditam que a última grande fusão galáctica envolveu uma galáxia anã massiva, no que ficou conhecida como a fusão Gaia-Salsicha-Encélado (GSE). Este evento, ocorrido entre oito e 11 bilhões de anos atrás, encheu a Via Láctea com estrelas em órbitas próximas ao centro galáctico. No entanto, novas observações sugerem que essas estrelas podem ter sido depositadas por um evento de fusão diferente.

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Desde 2020, a equipe de Donlon vem comparando as rugas da nossa galáxia simulações de colisões e fusões galácticas. As observações do satélite Gaia, divulgadas em 2022, indicam que essas rugas foram causadas por uma galáxia anã colidindo com a Via Láctea há cerca de 2,7 bilhões de anos, em um evento denominado Fusão Radial de Virgem.

“Para que as rugas das estrelas sejam tão claras quanto aparecem nos dados de Gaia, elas devem ter se juntado a nós há menos de três bilhões de anos – pelo menos cinco bilhões de anos depois do que se pensava anteriormente”, disse Heidi Jo Newberg, membro da equipe do Instituto Politécnico Rensselaer, em um comunicado da ESA

“Este resultado – que uma grande parte da Via Láctea só se juntou a nós nos últimos bilhões de anos – é uma grande mudança em relação ao que os astrônomos pensavam até agora”, afirmou Donlon. 

A equipe também acredita que a Fusão Radial de Virgem trouxe para a Via Láctea uma família de outras pequenas galáxias anãs e aglomerados estelares, que também foram devorados por ela na mesma época.