Imagem: Anelo/Shutterstock
O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e o Brasil é uma referência mundial na produção. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) analisou os quase três séculos da história do café em território brasileiro e confirmou que a importância do Brasil neste mercado não foi conquistada por mero acaso.
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O trabalho aponta que, durante a gestão do químico austríaco Franz Dafert, entre os anos de 1887 e 1898, os estudos sobre o café ganharam destaque com a análise química, física, geológica e nutricional do solo. Neste período, o Instituto Agronômico desenvolveu uma série de pesquisas que indicavam que o espaço de produção agrícola do café passava a ser pensado e organizado de forma científica.
Após análises de áreas de produção de café, o diretor concluiu que o solo mais adequado para o cultivo do café tinha que conter uma composição de argila (50 a 70%); de sílica (20 a 30%); de calcário (5 a 10%); e de húmus (5 a 10%), além de nitrogênio, potássio e ácido fosfórico. Caso o solo apresentasse condições de esgotamento, uma indicação pensada pelo Instituto Agronômico era o uso da cal, ou fosfato de cal composto.
Segundo o Jornal da USP, foi também na gestão de Dafert que surgiu uma tensão maior entre os produtores rurais e os pesquisadores do IAC. Isso aconteceu porque os cafeicultores buscavam soluções práticas e imediatas que pudessem levá-los a uma maior produtividade e lucratividade.
Após a saída de Dafert, o engenheiro agrônomo Gustavo D’Utra assumiu o cargo. Ele realizou ações de fomento para diversificação da atividade agrícola, o que fez com que outros gêneros alimentícios competissem com o café.
Durante a direção de D’Utra, os pesquisadores foram orientados a realizar investigações científicas sobre as principais doenças que atacavam os cafezais do Brasil e do mundo. As mais temidas eram a Hemileia vastatrix (ferrugem do café) e Stephanoderes coffeae (broca do café).
Logo depois, o instituto experimentou um período curto de direção do francês Max Passon, que após um ano deixou a direção por problemas de saúde. Para substituí-lo foi contratado o francês Jean-Jules Arthaud-Berthet, que introduziu a broca do café nas áreas de produção do café paulista, gerando uma vasta destruição nas lavouras paulistas.
O francês foi acusado de ser negligente e foi posteriormente exonerado. Em 1924, Arthur Neiva, um dos cientistas indicados para atuar na contenção da praga, informava a proibição da circulação de sacos de café vazios sem o chamado expurgo (desinfecção), a fim de evitar a propagação da doença.
A conclusão do estudo é que o Instituto Agronômico e seus cientistas atuaram como mediadores de ações entre o meio natural e o meio econômico utilizando a ciência como missão de promover o desenvolvimento econômico brasileiro. Isso permitiu o desenvolvimento das variedades de café que hoje estão presentes em várias regiões brasileiras e no mundo.
Esta post foi modificado pela última vez em 11 de junho de 2024 11:57