Uma semana agitada espera por Saturno. A programação conta com uma conjunção com a Lua, um “eclipse” e o início do popularmente chamado “movimento retrógrado”.

Tudo começa na quinta-feira (27). De acordo com o guia de observação astronômica InTheSky.org, entre 9h49 e 14h03 (pelo horário de Brasília), o gigante dos anéis será encoberto pela Lua, em uma espécie de “eclipse” – que, na verdade, se chama ocultação lunar.

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Nesse meio tempo, mais precisamente às 11h59, ocorre a chamada conjunção entre os dois objetos. Embora esse termo também seja usado para se referir à aproximação máxima entre corpos celestes, na verdade, ele indica o momento em que eles compartilham a mesma ascensão reta (coordenada astronômica equivalente à longitude terrestre).

Para observadores em São Paulo, a Lua e Saturno estarão visíveis a partir das 23h41, quando atingem uma altitude de 11° acima do horizonte leste. Eles chegarão ao seu ponto mais alto no céu às 5h01, 73° acima do horizonte norte. Então, a dupla sumirá no brilho do amanhecer por volta das 6h08, 66° acima do horizonte noroeste.

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A Lua estará em magnitude de -12.2, enquanto Saturno terá uma taxa de 0.8, ambos na constelação de Peixes. Quanto mais brilhante um objeto parece, menor é o valor de sua magnitude (relação inversa). O Sol, por exemplo, que é o objeto mais brilhante do céu, tem magnitude aparente de -27.

O par estará próximo o suficiente para caber dentro do campo de visão de um telescópio, mas também será visível a olho nu ou através de um par de binóculos.

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Ocultações lunares não são vistas por todo o planeta

Ocultações lunares só são visíveis de uma pequena fração da superfície da Terra. Como a Lua está muito mais perto do nosso planeta do que outros objetos celestes, sua posição no céu difere dependendo da localização exata do observador na Terra devido à sua grande paralaxe (diferença na posição aparente de um objeto em relação a um plano de fundo, tal como visto por observadores em locais distintos ou por um observador em movimento). 

A posição da Lua vista de dois pontos em lados opostos da Terra pode variar em até dois graus, ou quatro vezes o diâmetro da lua cheia.

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Isso significa que se a Lua estiver alinhada para passar na frente de um objeto específico para um observador posicionado em um lado da Terra, ela aparecerá até dois graus de distância desse objeto do outro lado do globo.

Mapa mostra as regiões do planeta de onde será possível observar a ocultação lunar de Saturno no sábado (27). Crédito: In-The-Sky.org

No mapa acima, contornos distintos mostram onde o desaparecimento de Saturno poderá ser visível (em vermelho) e onde será possível testemunhar seu reaparecimento (em azul). Os riscos sólidos exibem onde a ocultação provavelmente será visível através de binóculos a uma altitude razoável no céu. Os contornos pontilhados, por sua vez, indicam onde o evento ocorre acima do horizonte, mas pode não ser visível devido ao céu estar muito claro ou a Lua muito perto do horizonte.

Fora dos contornos, a Lua não passa na frente de Saturno em nenhum momento, ou está abaixo do horizonte no momento da ocultação.

Começa o movimento retrógrado de Saturno

E, finalmente, no sábado (29), o planeta começa um processo pelo qual seu trânsito normal para o leste através do céu noturno é interrompido, mudando a trajetória para oeste, no que é popularmente conhecido como movimento retrógrado. Para a astronomia, a designação mais adequada, no entanto, é “laço” retrógrado – porque, durante o curso percorrido, o planeta parece formar um laço no céu. 

Composto de imagens espaçadas com cerca de 5 a 9 dias de diferença captadas em 2018, do fim de abril (inferior direito) até 5 de novembro (canto superior esquerdo), traça o movimento retrógrado de Marte, mostrando o “laço” que os planetas formam durante o movimento retrógrado. Imagem: NASA APOD/Tunc Tezel (TWAN)

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De acordo com o guia de orientação astronômica In-The-Sky.org, a inversão de direção do gigante dos anéis começará às 16h16. Ele, então, retoma o sentido habitual no dia 15 de novembro.

Ainda segundo a plataforma, essa inversão de direção é um fenômeno pelo qual todos os planetas do Sistema Solar passam periodicamente. No caso daqueles cujas órbitas são mais externas que a da Terra (Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), isso se dá poucos meses depois de passarem pela oposição, que é quando eles estão do lado oposto do Sol em relação ao nosso planeta (que fica entre os dois corpos celestes).

O colunista do Olhar Digital Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON), explica que o movimento retrógrado dos planetas é apenas ilusório, sendo causado pelo curso da Terra em torno do Sol. 

À medida que ela circunda o astro, nossa perspectiva muda, e isso faz com que as posições aparentes dos objetos celestes se alterem de um lado para o outro no céu, o que se sobrepõe ao movimento de longo prazo do planeta em direção ao leste através das constelações.

A animação abaixo ilustra isso, com a flecha mostrando a linha de visão da Terra para um planeta, e o diagrama à direita mostrando o aparentemente movimento do objeto através do céu pela nossa perspectiva de visão.

Animação ilustra o conceito de “ciclo retrógrado” dos planetas. Crédito: In-The-Sky.org

“Por estar em uma órbita mais interna e, consequentemente, mais rápida, a Terra ultrapassa Saturno a cada 12 meses e meio aproximadamente. E quando isso acontece, Saturno parece estar caminhando no sentido contrário no céu por um certo período”, descreve Zurita, explicando que quanto mais longe do Sol, mais tempo o planeta passa em movimento retrógrado.

É, ao que tudo indica, Saturno não terá folga nos próximos dias – oferecendo ótimas oportunidades para astrofotógrafos ao redor do mundo fazerem belos registros.