O que existe embaixo do gelo da Antártica?

Descoberta de antigo sistema de rio sob o gelo da Antártica oferece insights cruciais sobre mudanças climáticas passadas e futuras
Por Ana Luiza Figueiredo, editado por Lucas Soares 03/07/2024 14h04, atualizada em 11/07/2024 21h03
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Geólogos desvendaram um segredo milenar sob o gelo da Antártica: um sistema de rio que fluía há 40 milhões de anos, o que revela pistas cruciais sobre a história climática da Terra e oferece uma visão sobre os impactos potenciais das mudanças climáticas futuras. A descoberta foi publicada na renomada Science Advances.

Contexto da descoberta

Durante o período Eoceno médio a tardio, aproximadamente 34 a 44 milhões de anos atrás, a atmosfera da Terra passou por uma transformação significativa. Uma queda drástica nos níveis de dióxido de carbono levou ao resfriamento global e à formação de geleiras.

Entender essas mudanças climáticas passadas é crucial, à medida que os níveis atuais de CO₂ aumentam devido às atividades humanas, podendo atingir níveis semelhantes aos do Eoceno tardio nos próximos 150 a 200 anos.

No entanto, a extensa cobertura de gelo da Antártica Ocidental dificulta o acesso a rochas sedimentares, que são essenciais para reconstruir ambientes antigos. Geólogos dependem de grãos, minerais e fósseis contidos nesses sedimentos para entender as condições passadas.

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Expedição Polarstern e análises

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O quebra-gelo de pesquisa Polarstern diante de um icebergue gigante no Mar de Amundsen. Pesquisadores neste navio descobriram evidências de um rio gigante que atravessava a Antártica Ocidental. (Imagem: Johann Klages via Space.com)
  • Em 2017, pesquisadores, incluindo o coautor do estudo Johann Klages, embarcaram em uma expedição a bordo do navio de pesquisa Polarstern.
  • Eles navegaram do Chile até o oeste da Antártica com equipamentos avançados de perfuração no fundo do mar.
  • Ao perfurar quase 30 metros no fundo do mar, coletaram núcleos de sedimentos de dois períodos geológicos distintos.
  • A datação radiométrica revelou que a camada inferior de sedimentos originou-se do período Cretáceo médio, cerca de 85 milhões de anos atrás, contendo fósseis indicativos de uma floresta temperada.
  • A camada superior, composta principalmente de areia, datava do Eoceno médio a tardio, cerca de 30 a 40 milhões de anos atrás.

Identificação do rio antigo

Um exame mais detalhado da camada de areia do Eoceno mostrou um padrão estratificado típico de deltas de rios, semelhante aos do rio Mississippi ou rio Grande dos Estados Unidos. A análise de biomarcadores lipídicos confirmou ainda a presença de uma molécula única encontrada em cianobactérias de água doce, indicando um rio antigo.

Este sistema de rio, com cerca de 1.500 quilômetros de extensão, fluía das Montanhas Transantárticas até o Mar de Amundsen.

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O mapa mostra a topografia subglacial da área de estudo (68), incluindo unidades geológicas principais e estruturas tectônicas (5, 8, 13, 73), bem como a localização proposta (esquemática) do sistema de rio do Eoceno. (Imagem: Zundel et al. / Science Advances)

Implicações e pesquisas futuras

A descoberta deste sistema de rio antigo proporciona uma visão empolgante sobre a história climática da Antártica. Klages e sua equipe agora estão analisando núcleos de sedimentos do período Oligoceno-Mioceno, cerca de 23 milhões de anos atrás, para refinar os modelos climáticos e melhorar as previsões para cenários climáticos futuros.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.