No início de 2023, dois programas de observação astronômica – Tsuchinshan e ATLAS – descobriram de forma independente o cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS). Este objeto prometia ser um espetáculo visível a olho nu no céu nos últimos meses deste ano, sendo possivelmente o cometa mais brilhante desde 2007.

Com sua passagem mais próxima da Terra prevista para 12 de outubro, a cerca de 70,6 milhões de km, foi estimado por alguns que o objeto seria mais brilhante até mesmo do que Júpiter e que talvez pudesse ser visível durante o entardecer.

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Órbita do Cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) no momento de sua máxima aproximação com a Terra. Crédito: Reprodução ssd.jpl.nasa.gov

Ocorre que, infelizmente – de acordo com uma análise não revisada por pares do PhD em astronomia tcheco-americano Zdenek Sekanina – o cometa está condenado a se fragmentar antes de sua aproximação com a Terra.

Segundo Sekanina, o objeto mostra sinais de desintegração à medida que se aproxima mais do Sol (encontro previsto para 27 de setembro, quando estará a 58,6 milhões de km do astro).

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Por que o cometa pode se desintegrar

Conforme os cometas se aproximam do Sol e aquecem, começam a liberar gases e poeira, formando suas caudas características. Essa emissão de gases atua como propulsor, alterando ligeiramente a trajetória, rotação e velocidade do cometa, em um fenômeno chamado de “aceleração não gravitacional”, pois não é causado pela atração gravitacional dos corpos no Sistema Solar

Embora observações indiquem que o cometa está acelerando mais do que o esperado apenas pelas forças gravitacionais, seu brilho não corresponde às expectativas.

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Imagens do Cometa C/2023 A3 (provisoriamente chamado de A10SVYR) registradas em observatórios remotos no Chile e Austrália. réditos: Filip Romanov

De acordo com o site IFLScience, o astrônomo Ignacio Ferrin, da Universidade de Antioquia, na Colômbia, recentemente destacou um comportamento peculiar deste cometa. Ele notou que, a uma distância heliocêntrica superior a 2 Unidades Astronômicas (UA) – cerca de 160 dias antes do periélio (aproximação máxima com o Sol) – o objeto não brilhou como esperado e apresentou uma queda acentuada na produção de poeira.

Quando os cometas se aproximam do Sol a menos de 2 UA – com 1 UA sendo a distância da Terra ao Sol, que é de cerca de 150 milhões de km – é raro ver caudas de plasma, sendo mais comum observar caudas de poeira. No entanto, a cauda deste cometa é excepcionalmente fina e de formato incomum, lembrando aqueles que vêm da nuvem de Oort. Cometas dessa origem geralmente não resistem bem a passagens próximas ao Sol.

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“Cometas dessa classe tendem a se desintegrar se estiverem fracos e com pouca poeira quando chegam perto de 1 UA do Sol”, explica Sekanina. “Com um periélio de 0,39 UA, é possível que o objeto desapareça e deixe de existir como um cometa ativo antes do periélio”.

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Aprendizado em meio à decepção

Embora isso possa decepcionar os observadores ansiosos para ver o cometa, pode ser uma oportunidade valiosa para os astrônomos estudarem o comportamento desses objetos. As evidências sugerem que o cometa C/2023 A3 está emitindo grandes grãos de poeira longe do Sol, causando sua aceleração sem formar uma coma visível. Sekanina sugere que esses grandes fragmentos podem se assemelhar ao visitante interestelar ‘Oumuamua.

“A ausência contínua de uma cauda de poeira comum indica que grandes quantidades de material sólido e fraturado não se desintegram em poeira microscópica, mas permanecem em corpos porosos e escuros que chamo de bolhas”, conclui. “Uma vez dispersas no espaço, essas bolhas são quase impossíveis de detectar, mas podem ser comuns, embora de curta duração”.

A jornada desse cometa continua sendo monitorada pelos astrônomos. Ainda existe a esperança de que ele não se desintegre e possa iluminar o céu, mas mesmo que isso não aconteça, lições valiosas poderão ser aprendidas.