A plataforma para motoristas de apps de transporte StopClub tentou estimar quanto um motorista de aplicativo ganha, baseado em informações inseridas por condutores na aplicação.

A resposta, é claro, é bem difícil de ser definida, pois existem diversos pontos a serem analisados que influenciam diretamente nos ganhos do trabalhador, como o carro (próprio ou alugado), consumo e eficiência do automóvel, horas de trabalho, preço do combustível, e por aí vai.

publicidade

A pesquisa, realizada em dez capitais, concluiu que, em São Paulo (SP), um motorista fatura, mensalmente, R$ 6,5 mil, mas o salário líquido (tirando combustível, IPVA e manutenção veicular) é de R$ 2,5 mil.

publicidade
Duas telas de smartphone mostrando telas de configuração do aplicativo StopClub
Tela inicial e de configuração do app StopClub (Imagem: Olhar Digital)

Pesquisa: motorista de aplicativo ganha R$ 2,5 mil

  • O StopClub se coloca como um assistente para o condutor, pois auxilia, por exemplo, no cálculo de custos e lucros. Também compartilha sua localização e a gravação da corrida, por exemplo;
  • A startup realizou o levantamento com base em dados de seus mais de 220 mil usuários ativos e com mais de um milhão de downloads, segundo informações próprias;
  • Segundo a companhia, foram utilizadas informações de 42 mil pessoas que colocaram seus dados na plataforma, já que representam as principais cidades nas quais atuam;
  • Os dados foram obtidos entre novembro de 2023 e junho de 2024.

Em São Paulo (SP), a pesquisa estimou o seguinte: reita mensal de R$ 6.428,57, gasto mensal de R$ 3.926,96, sendo R$ 1.852,50 em combustível (o resto é com manutenção e IPVA), receita líquida mensal de R$ 2.501,61 e 60 horas trabalhadas semanalmente, ou 8,5h diárias em sete dias. Entre os motoristas que conseguiram tal receita e lucro, são cerca de 85% com carro próprio.

O motorista de app é um empreendedor que chega a ter uma receita alta, mas que tem uma despesa também muito grande. Nossa ideia é que ele não olhe o faturamento total como salário dele, mas que tem outros gastos embutidos.

Pedro Inada, cofundador da StopClub, em entrevista ao UOL

Leia mais:

publicidade

Já no Rio de Janeiro (RJ), segunda cidade com mais usuários do aplicativo, apesar de faturarem e trabalharem menos horas, os motoristas cariocas têm lucro similar ao dos paulistanos.

A receita é de R$ 6 mil, com gasto mensal de R$ 3.585,69 (R$ 1.854,56 com combustível), lucro de R$ 2.413,31 e 54 horas semanais de trabalho, ou 7,7h por dia. Na cidade, também há mais motoristas com veículo próprio obtendo tal faturamento: 84%.

publicidade

Além de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), as outras cidades analisadas foram: Brasília (DF), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Recife (PE), Goiânia (GO), Manaus (AM), Belo Horizonte (MG), entre outras.

Contudo, ressalta-se que os gastos com manutenção também são relativos. Para a pesquisa, a StopClub estimou gastos entre R$ 0,12 e R$ 0,15 por quilômetro rodado, de modo a cobrir balanceamento, alinhamento, troca de óleo, etc.

Sem contar a ausência do custo com alimentação, que também varia conforme a localização, podendo diminuir ainda mais o lucro. Há ainda os motoristas que conseguem se alimentar em casa, por exemplo.

Em 2023, a Uber processou a startup por, supostamente, permitir que seus usuários rejeitassem automaticamente quaisquer corridas que não valessem a pena, além de violação de privacidade de dados. O app ganhou em primeira instância, mas cabe recurso por parte da empresa de viagens veiculares.

Smartphone preso ao console de um carro exibindo a logomarca da Uber
Uber provessou o aplicativo no ano passado (Imagem: DenPhotos/Shutterstock)

A seguir, veja o ranking completo nas dez principais cidades do aplicativo:

  1. São Paulo: R$ 6.428,57 (receita), com R$ 3.926,96 (gasto, incluindo combustível, IPVA e manutenção) e R$ 2.501,61 (lucro) em 60 horas semanais;
  2. Rio de Janeiro: R$ 6 mil, com R$ 3.585,69, e R$ 2.414,31 em 54 horas semanais;
  3. Belo Horizonte: R$ 6.428,57, com R$ 3.622,80 e R$ 2.805,77 em 54 horas semanais;
  4. Porto Alegre: R$ 6.428,57, com R$ 3.900,99 e R$ 2.527,58 em 50 horas semanais;
  5. Brasília: R$ 5.215,71, com R$ 3.895,07 e R$ 1.320,64 em 50 horas semanais;
  6. Recife: R$ 4.285,71, com R$ 3.137,44 e R$ 1.148,27 em 50 horas semanais;
  7. Salvador: R$ 5.142,86, com R$ 3.430,67 e R$ 1.712,19 em 54 horas semanais;
  8. Curitiba: R$ 5.785,71, com R$ 3.897,47 e R$ 1.888,24 em 56 horas semanais;
  9. Fortaleza: R$ 5.142,86, com R$ 3.195 e R$ 1.947,52 em 56 horas semanais;
  10. Goiânia: R$ 5.142,86, com R$ 3.101,36 e R$ 2.041,50 em 54 horas semanais.

Abimotec não reconhece pesquisa

Em nota, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Abimotec), representante de Uber e 99, afirmou não reconhecer os números da pesquisa como sendo os da realidade dos motoristas de aplicativo, “pois não foram apresentados critérios técnicos ou qualquer metodologia de amostragem necessária para a realização de pesquisas”.

A associação alega que os números se baseiam em informações declaratórias, sem checagem ou cálculo probabilístico.

Ela cita pesquisa divulgada por si e pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em 2023, na qual a renda líquida média mensal dos motoristas foi estimada entre R$ 2.925 e R$ 4.756 em jornada de trabalho de 40 horas semanais.

O estudo foi baseado em 1.518 conversas com condutores, em amostra aleatória e representativa do 1,3 milhão de pessoas que trabalham com apps no Brasil.

Mãos de uma pessoa segurando um volante, com imagem desfocada de uma rua com dois carros em segundo plano
Associação que representa Uber e 99 não reconhece pesquisa (Imagem: Toa55/Shutterstock)

Sobre a remuneração dos profissionais, as empresas associadas da Amobitec atuam dentro de modelos de negócio que buscam equilibrar as demandas dos motoristas, que geram renda com os aplicativos, e a situação econômica dos usuários, que procuram formas acessíveis de transporte.

Abimotec, em nota