Cientificamente falando, é quase impossível negar as semelhanças entre humanos e primatas. Seja na estrutura física ou no comportamento em sociedade. Inúmeros artigos apontam para essa relação. E um novo estudo acaba de trazer mais um elemento para reforçar a tese.

Pesquisadores da University of St Andrews, na Escócia, descobriram que os chimpanzés se comunicam de uma forma muito parecida com a nossa. Funciona como um bate-papo, com interrupções, movimentos de mãos e diferentes expressões faciais.

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Sabe quando você está conversando com um grupo de amigos seus? Imagino que algum de vocês (senão todos) gesticula bastante enquanto fala. Além disso, um acaba interrompendo o outro no meio do raciocínio, ou falando em cima, se a pessoa tiver o que dizer para contribuir com o assunto.

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Imagino também que você já deve ter visto várias caras e bocas durante um diálogo. Isso sem contar a mudança constante de temas, principalmente quando encontramos aquela pessoa que não vemos há muito tempo.

Se identificou com alguma dessas características? Os cientistas perceberam que os chimpanzés fazem a mesma coisa, mas sem um vocabulário definido, como o nosso. A estrutura de sinais, no entanto, é a mesma.

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Espécie tem várias características quase “humanas” – Imagem: Patrick Rolands – Shutterstock

Uma conversa quase humana

  • De acordo com Catherine Hobaiter, uma das autoras do estudo, a rápida troca de interlocutores é uma das marcas da conversação humana.

“Todos nós levamos cerca de 200 milisegundos entre cada interlocutor”, disse ela.

  • Ao examinar milhares de interações entre chimpanzés selvagens, Hobaiter e outros cientistas conseguiram cronometrar as conversas deles.
  • E as reações, embora um pouco mais demoradas, são muito semelhantes às dos humanos.
  • Os intervalos para troca de interlocutor variavam de 1,6 mil milissegundos antes do final do gesto, a 8,6 mil milissegundos entre os chimpanzés, ou seja, frações de segundo também.
  • Para chegar a esses números, os pesquisadores passaram décadas observando o comportamento de cinco comunidades de chimpanzés selvagens em florestas em Uganda e Tanzânia.
  • Eles registraram e traduziram mais de 8 mil gestos de 250 animais diferentes.
  • Outra pesquisadora, Gal Badihi, também da Universidade de St. Andrews, explicou que os gestos permitem que chimpanzés evitem conflitos e se coordenem entre si – algo que os humanos também fazem.

“Um chimpanzé pode gesticular para outro que quer comida, e esse outro pode dar comida a ele, ou, se estiver se sentindo menos generoso, pode gesticular para ele ir embora”, explicou a pesquisadora.

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“Eles podem chegar a um acordo sobre como e onde se relacionar. É fascinante, e feito com apenas alguns gestos curtos”, concluiu Badihi.

Todas esses dados constam de artigo científico publicado na revista Current Biology na última segunda-feira (22).

A expressão facial dos chimpanzés é semelhante à nossa – Imagem: Patrick Rolands/Shutterstock

Os incríveis chimpanzés

Essa não foi a primeira pesquisa que revelou características quase humanas desses primatas.

Estudiosos da mesma Universidade de St Andrews, por exemplo, já demonstraram que os chimpanzés conseguem ter algo parecido com o nosso raciocínio lógico.

Uma outra pesquisa da Universidade da Califórnia, em Berkeley, apontou que os chimpanzés podem reconhecer amigos e familiares após décadas separados.

Tem ainda um relatório da Universidade Durham, no Reino Unido, que identificou que esses animais se cumprimentam ao chegar e deixar os lugares, como os nossos “oi” e “tchau”.

E temos agora esse artigo sobre a comunicação avançada entre eles. Como próximo passo, os cientistas querem aprofundar a análise dos dados obtidos.

Além disso, cogitam estudar as formas de comunicação de outras espécies de animais. Não só para entendê-los melhor, mas também para ajudar a compreender como as nossas próprias regras de conversação evoluíram.

As informações são da BBC.