Estrelas anãs vermelhas, que são as mais comuns na Via Láctea, podem ser ainda menos favoráveis à vida do que os cientistas acreditavam. Uma nova pesquisa, publicada segunda-feira (5) na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, revela que essas estrelas, menores e menos massivas que o Sol, podem emitir explosões intensas de radiação ultravioleta (UV) que afetam significativamente a habitabilidade dos planetas que as orbitam.

A descoberta foi feita por uma equipe de cientistas que analisou dados da missão Galaxy Evolution Explorer (GALEX), um telescópio espacial lançado pela NASA em 2003 e desativado em 2013. O GALEX foi projetado para observar o Universo em luz ultravioleta e monitorou cerca de 300 mil estrelas próximas enquanto esteve operacional.

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De acordo com os pesquisadores, essas explosões de radiação ultravioleta são mais comuns do que se pensava. “Acreditava-se que poucas estrelas eram capazes de gerar radiação UV suficiente em erupções para afetar a habitabilidade dos planetas. Nossas descobertas mostram que muito mais estrelas podem ter essa capacidade”, afirmou Vera Berger, pesquisadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e líder da equipe, em um comunicado.

Ilustração mostra um planeta que orbita uma violenta estrela anã vermelha tendo sua atmosfera (e habitabilidade) despojada. Crédito: Robert Lea (criado com Canva) / NASA

Utilizando técnicas modernas de processamento de dados, a equipe conseguiu extrair novas perspectivas dos arquivos do GALEX sobre as estrelas anãs vermelhas. “A combinação do poder dos computadores modernos com décadas de observações nos permitiu identificar erupções em milhares de estrelas próximas”, disse o coautor do estudo, Michael Tucker, da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA.

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Radiação UV emitida pelas estrelas anãs vermelhas impede desenvolvimento da vida

Segundo a equipe, a radiação ultravioleta emitida por essas estrelas pode ser altamente prejudicial à vida, pois pode destruir a atmosfera de um planeta e romper moléculas complexas, essenciais para a biologia. 

Esta nova pesquisa questiona os modelos atuais de habitabilidade de exoplanetas, sugerindo que o risco representado pelas explosões estelares foi subestimado. Os cientistas descobriram que as emissões de UV das erupções podem ser de três a 12 vezes mais intensas do que o previsto.

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Representação artística do Galaxy Evolution Explorer, lançado em 28 de abril de 2003 pela NASA para estudar a forma, o brilho, o tamanho e a distância de galáxias ao longo de 10 bilhões de anos de história cósmica. Crédito: NASA / JPL-Caltech

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Para ilustrar a magnitude dessas explosões, Benjamin J. Shappee, da Universidade do Havaí, comparou a diferença na radiação UV entre Anchorage, no Alasca, e Honolulu, onde a pele exposta pode sofrer queimaduras solares em menos de 10 minutos.

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Jason Hinkle, outro membro da equipe e doutorando na Universidade do Havaí, destacou que o estudo modificou a percepção sobre os ambientes em torno dessas estrelas menos massivas, que emitem pouca luz UV fora das erupções. 

Embora os cientistas ainda não saibam o que causa essas emissões tão intensas, eles acreditam que possam estar relacionadas a comprimentos de onda específicos, possivelmente indicando a presença de átomos como carbono e nitrogênio. A equipe concluiu que são necessários mais dados de telescópios espaciais para identificar a origem dessas emissões UV.