Uma base de dados audiovisual que cria e armazena “dublês digitais” a partir de inteligência artificial. Pode parecer o início de um filme de ficção científica digno de Hollywood, mas é apenas a realidade. A iniciativa, chamada CAA Vault, foi criada pela Creative Artists Agency (CAA), uma das maiores agências de talentos do mundo.

IA analisa os músculos e até a forma de caminhar do artista

De acordo com a empresa, o objetivo é proteger as imagens e vozes de seus clientes, criando um novo mercado de artistas virtuais. Em parceria com o Clear Angle Studios, especializado em escaneamento 3D e efeitos visuais para filmes da Marvel ou Disney, a CAA montou estúdios em Londres, na Inglaterra, e em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde é possível criar e estabelecer um dublê digital.

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Primeiro, o ator original passa por um escaneamento completo do corpo em 17 tipos diferentes de iluminação. Depois, câmeras capturam certos movimentos do corpo para a IA entender o funcionamento dos músculos e a forma de caminhar da pessoa, por exemplo.

O terceiro passo envolve a captação de todos os detalhes do rosto numa máquina apelidada de Dorothy, com centenas de câmeras e flashes que, durante duas sessões, tiram cerca de 700 fotos a cada três segundos de 76 expressões diferentes da face. A quarta e última etapa é feita num estúdio de gravação, onde o artista precisa falar ao microfone centenas de frases pré-estabelecidas que fornecem uma vasta gama de sons que podem ser usados para criar monólogos inteiros, até mesmo em outras línguas.

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Creative Artists Agency é a responsável pela iniciativa (Imagem: Daniel J. Macy/Shutterstock)

Com a criação do dublê digital, o cliente do CAA Vault possui os direitos completos da sua imagem e da sua voz. Nada pode ser usado sem a sua autorização ou pagamento de um cachê previamente estabelecido.

É importante compreender que é uma performance autêntica e original do ator, então não encaramos o projeto como uma substituição de qualquer um dos nossos artistas. Pense nisto numa forma de aprimoramento ou expansão do trabalho dos talentos envolvidos. E, caso exista um uso indevido, temos um caminho para removê-lo e um argumento legal para provar similaridade da atuação.

Liz Randall, chefe de operações comerciais da CAA

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Hollywood
Uso de dublês digitais já foi motivo de polêmica em Hollywood (Imagem: Shutterstock)

Potencialidades e riscos da tecnologia

  • Segundo a Creative Artists Agency, as possibilidades criadas pela tecnologia são enormes.
  • É possível, por exemplo, que um cantor use um dublê digital para enviar vídeos com seu rosto chamando os fãs para determinado show e em qualquer língua.
  • Além disso, um ator pode usar a tecnologia para gravar cenas de filme, caso não possa comparecer presencialmente.
  • Isso abre a possibilidade até mesmo para o uso de artistas que já morreram (nestes casos, a família fica com o controle da imagem).
  • No entanto, críticos da ideia apontam que a tecnologia também pode ser utilizada para criar deepfakes, ou “impostores digitais”.
  • A utilização de réplicas digitais foi inclusive um dos pontos de maior desentendimento entre os estúdios e os atores na greve que paralisou as atividades em Hollywood por 118 dias, no segundo semestre de 2023.
  • Com certeza este é um assunto que ainda vai gerar muita polêmica.
  • As informações são da Folha de São Paulo.