Na tarde desta quinta-feira (15), o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) atualizou o relatório sobre a investigação da queda do avião ATR-72, da VoePass, em Vinhedo (SP), na última sexta-feira (9).
Segundo nova informação divulgada no documento, “durante o voo em rota, a tripulação perdeu o controle da aeronave“. Anteriormente, os investigadores escreveram que “a aeronave perdeu altura subitamente e colidiu contra o solo”.
Possíveis fatores que levaram à queda do avião
- Segundo informações do Metrópoles, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) aponta três possíveis situações meteorológicas que podem ter contribuído para a queda da aeronave:
- Turbulência;
- Formação de gelo e ciclone extratropical;
- Fumaça de queimadas.
- O laboratório indicou ainda que o avião passou por zona meteorológica altamente crítica por nove minutos;
- Entre 13h10 e 13h19, houve redução da velocidade da aeronave, que atravessou nuvens supercongeladas de até −40 °C;
- Segundo o fundador do Lapis, Humberto Barbosa, as condições meteorológicas no momento do acidente eram “caóticas”.
A seguir, entenda mais as questões relacionadas à meteorologia no momento da queda:
Turbulência e água supercongelada
Imagem de satélite (veja a seguir) mostra que o avião passou por sistema frontal de turbulência formado por nuvens Cirrocumulus, que se forma por conta de muita umidade e nos altos níveis de nossa atmosfera.
![Mapa mostra nuvens do tipo Cirrocumulus se formando na região do acidente](https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2024/08/nuvens_aviao_vinhedo.avif)
Dada a severa turbulência, a primeira grande oscilação da aeronave se deu às 12h52, no momento em que a velocidade dela foi bruscamente diminuída de 529 km/h para 398 km/h.
Às 13h06, perto da queda, ela saiu rapidamente de 604 km/h para 491 km/h, perdendo cada vez mais velocidade daí em diante. A última informação coletada indicou que o avião estava a 63 km/h e altitude de 1.798 m.
Barbosa indicou ainda que havia condições atípicas de congelamento dada a alta umidade, formada por gotículas líquidas supercongeladas, a partir de seis a sete mil metros de altura. O avião trafegava a cerca de 5,1 mil metros.
Havia um sistema frontal, com muita umidade e turbulência, frio extremo e água supercongelada. Essa situação é capaz de levar a aeronave a entrar em condições de formação de gelo.
Humberto Barbosa, fundador do Lapis
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Formação de gelo
Outra imagem de satélite indica a altura do ponto de congelamento na atmosfera. A água supercongelada tinha temperatura de cerca de −55 °C (abaixo do ponto de congelamento).
![Imagem de satélite mostra altura do ponto de congelamento na atmosfera](https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2024/08/ponto_congelamento_aviao_vinhedo.avif)
Estando líquida e muito congelada graças às temperaturas hiper-baixas, a água, possivelmente, teve maior aderência ao avião e virou gelo, indicou o Lapis, o que pode ter afetado a aerodinâmica da aeronave.
À medida que se aproximava do destino, a aeronave enfrentou muitas perturbações e variações na composição das nuvens complexas. Áreas com formação de gelo, nuvens mais altas e nuvens mais baixas. Houve grande variação nas temperaturas e nas condições de pressão.
Humberto Barbosa, fundador do Lapis
Na segunda imagem (veja mais abaixo), a área em vermelho tinha água supercongelada, gotículas de gelo ou cristais de gelo. No ponto destacado, a temperatura estava em torno de −38 °C.
Na história da aviação e de acidentes aéreos, temos que a formação de gelo tem potencial de causar danos ao motor e demais importantes dispositivos dos aviões por conta do processo de resfriamento.
Existem, ainda, casos nos quais tal condição afeta a capacidade de detecção de pressão do ar pelos tubos de Pitot, que medem a velocidade do ar.
Pode ser também que alguns sensores tenham sido alterado pelo gelo, podendo ter informado, erroneamente, dados da velocidade, entre outras informações, podendo, assim, ter confundindo os pilotos.
![Mapa com área em vermelho](https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2024/08/vermelho_agua_supercongelada_aviao_vinhedo.avif)
Fumaça de queimadas e ciclone extratropical
Na manhã de sexta-feira (9), um ciclone extratropical se formou sobre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, fazendo com que mais umidade fosse injetada sobre a região do acidente.
Barbosa explicou que isso fez com que a condição meteorológica ficasse ainda mais caótica, o que pode ser visto em nova imagem de satélite abaixo.
![Mapa mostra região do ciclone extratropical](https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2024/08/ventos_ciclone_aviao_vinhedo.avif)
Na imagem a seguir, de composição colorida, vemos nuvens sobre o nordeste de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, indo até o Oceano Atlântico.
Nas cores amarelo e ciano, vemos o ciclone extratropical. Tais nuvens são associadas ao deslocamento de frente fria, massa de ar frio e seco, de origem polar, causando queda na temperatura.
Como se não bastasse, o avião passou por ventos de alta intensidade, com velocidade em torno de 53 km/h e que vieram da Amazônia. Eles eram adversos, já que empurraram a aeronave.
Na segunda imagem (veja a seguir), do satélite GOES-16, vemos nadadeiras na cor roxa, que representam tais ventos, no interior de São Paulo, classificados como de alta pressão.
![Ciclone e ventos fortes destacados em cores em mapa](https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2024/08/ciclone_aviao_vinhedo.avif)
Na imagem abaixo, vemos a fumaça das queimadas, que vieram para o Sudeste pelo ar seco da Amazônia. Ela ficou nos mais altos níveis de nossa atmosfera, adquirindo o formato de aerossóis.
![Mapa mostra concentração de fumaça das queimadas](https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2024/08/fumaca_aviao_vinhedo-1024x683.jpg)
O laboratório apontou que isso tornou a água ainda mais fria e líquida, transformando-a em gelo e, possivelmente, deixando o avião ainda mais pesado. Apesar de terem reduzido a força da chuva, os aerossóis diminuíram ainda mais a temperatura da água, que já estava se transformando e gelo.
Portanto, mesmo sendo frente fria típica de inverno, houve muita convecção (nuvens verticais), que já poderiam ter gelo.
Lembrando que o relatório técnico preliminar da Força Aérea Brasileira (FAB) ficará pronto em cerca de 30 dias, estima o órgão.