Mesmo em coma, alguns pacientes ainda podem realizar tarefas cognitivas

Pesquisadores usaram técnicas avançadas para detectar se pacientes em coma ou estado vegetativo conseguem seguir instruções
Por Leandro Costa Criscuolo, editado por Lucas Soares 18/08/2024 04h03
atividade cerebral
Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock
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Um quarto dos pacientes que não respondem após uma lesão cerebral grave ainda podem realizar tarefas cognitivas, segundo descobertas de um novo estudo.

Este fenômeno é conhecido como dissociação motora cognitiva (TMC). Trata-se de uma síndrome que pode ocorrer quando uma pessoa em coma ou estado vegetativo parece não responder, mas ainda apresenta atividade cerebral relacionada ao pensamento intencional.

Para detectar se os pacientes estavam seguindo alguns comandos que lhes eram dados, os pesquisadores analisaram imagens cerebrais de ressonância magnética funcional (fMRI), bem como um teste que registra a atividade elétrica no cérebro, conhecido como eletroencefalografia (EEG).

Médico segurando chapa de ressonâncias cerebrais
Exames que escaneiam a atividade cerebral foram ajudaram os pesquisadores no estudo (Imagem: sfam_photo/Shutterstock)

Pesquisadores deram comandos básicos aos pacientes com lesão cerebral

  • Alguns dos comandos utilizados foram “imagine abrir e fechar a mão” e “imagine jogar tênis”.
  • Usando dados de seis locais no Reino Unido, EUA e Europa, o estudo descobriu que a dissociação motora cognitiva foi detectada em 60 dos 241 pacientes.
  • Do grupo, 11 foram avaliados com fMRI, 13 apenas com EEG e 36 com ambas as técnicas.

Os testes puderam mostrar reações inteligentes no cérebro, mesmo sem um sinal físico óbvio, como o paciente realmente abrindo e fechando a mão após o comando. Isso indica que, para alguns pacientes, o problema não é a cognição, mas sim as habilidades motoras, levando a condição conhecida como TMC.

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Cérebro de pessoas com lesão cerebral reagiu a determinados comandos – Imagem: Billion Photos/Shutterstock

“Estes resultados levantam questões éticas, clínicas e científicas críticas, tais como: como podemos aproveitar essa capacidade cognitiva invisível para estabelecer um sistema de comunicação e promover uma maior recuperação?”, diz Yelena Bodien, pesquisadora e autora principal do estudo.

Os pesquisadores observaram que uma limitação do estudo foi que os dados foram recolhidos por muitas equipes diferentes durante um longo período, e os métodos não foram padronizados, o que pode levar à variabilidade nos dados.

Elaborar diretrizes sobre como avaliar a dissociação motora cognitiva será o foco de trabalhos futuros, diz a equipe.

Bodien acrescentou: “Para continuar o nosso progresso neste campo, precisamos de validar as nossas ferramentas e desenvolver abordagens para avaliar de forma sistemática e pragmática os pacientes que não respondem, para que os testes sejam mais acessíveis”.

Leandro Costa Criscuolo
Colaboração para o Olhar Digital

Leandro Criscuolo é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Já atuou como copywriter, analista de marketing digital e gestor de redes sociais. Atualmente, escreve para o Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.