James Webb: estudo minimiza uma possível crise na ciência moderna

Galáxias maiores e mais brilhantes do que deveria ser possível logo após o início do Universo ganham nova explicação
Por Flavia Correia, editado por Bruno Capozzi 27/08/2024 10h13, atualizada em 28/08/2024 21h14
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Um novo estudo sugere que a aparente crise em nossos modelos do Universo, provocada pela descoberta de galáxias extremamente grandes logo após o Big Bang, pode não ser tão grave quanto se pensava. 

De acordo com a pesquisa, publicada na segunda-feira (26) no Astrophysical Journal, essas galáxias não são tão massivas quanto o estimado inicialmente. Se essas conclusões forem confirmadas, o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, revelou um Universo primitivo que, embora surpreendente, não desafia fundamentalmente a física existente.

Vamos entender:

  • James Webb tem impressionado com imagens fascinantes e avanços no estudo de exoplanetas;
  • Seu impacto mais significativo, no entanto, pode ter sido a descoberta de galáxias muito evoluídas, observadas apenas algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang;
  • Essas descobertas levantaram dúvidas sobre os modelos cosmológicos, a ponto de alguns sugerirem uma crise na cosmologia, comparável à causada pelas discrepâncias nas estimativas da taxa de expansão do Universo;
  • Contudo, antes de reavaliar radicalmente nossos modelos de formação de galáxias ou a idade do Universo, é necessário verificar se essas galáxias são realmente tão grandes. 
Algumas galáxias do Universo antigo observadas pelo Webb são mais brilhantes do que o esperado, mas isso pode não ser um problema, de acordo com um novo estudo. Crédito: NASA, ESA, CSA, Steve Finkelstein (Universidade do Texas em Austin)

Luminosidade do Universo primitivo e influenciada por buracos negros

Liderada por Katherine Chworowsky, da Universidade do Texas em Austin, nos EUA, uma equipe de pesquisadores argumenta que a luminosidade dessas galáxias pode estar sendo intensificada por buracos negros supermassivos, cujo brilho tem sido confundido com a luz de estrelas.

Em um comunicado, Chworowsky explicou que, embora estejamos observando mais galáxias do que o previsto, nenhuma delas é tão massiva a ponto de “quebrar” o modelo cosmológico. Buracos negros formam discos de acreção ao seu redor, onde o atrito faz com que gases brilhem intensamente. Este fenômeno é bem conhecido, mas, segundo a pesquisadora, não foi adequadamente considerado nas estimativas.

Ilustração artística de um buraco negro cercado por nuvens extremamente espessas de gás e poeira. Crédito: NASA / JPL-Caltech.

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A equipe analisou a contribuição desses discos de acreção para a luz observada e, ao subtraí-la, encontrou tamanhos de galáxias consideravelmente menores do que as estimativas anteriores. Apesar de ainda estarem no limite superior das expectativas, essas galáxias não são tão discrepantes em relação ao que os astrônomos previam.

Embora existam potenciais fontes de erro, como a dependência de estimativas do desvio para o vermelho para calcular a distância e a idade dessas galáxias, a equipe utilizou métodos variados que confirmaram suas conclusões. 

Essa abordagem aponta que a crise na cosmologia pode não ser real, apesar de ainda existirem questões a serem exploradas, como o motivo pelo qual as galáxias primordiais parecem tão eficientes na formação de estrelas.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.