As Olimpíadas são o palco da superação, do reconhecimento e da glória. O mundo inteiro vive essa mensagem a cada quatro anos, quando elas acontecem. Talvez devêssemos ser lembrados mais frequentemente de que limites existem para ser ultrapassados.

Somos capazes de feitos incríveis quando nos entregamos a praticar massivamente algo em busca de um objetivo maior. No caso dos Jogos Olímpicos, representar a pátria.

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Desde a antiga Grécia, recordes são superados ciclo após ciclo, mostrando-nos a infinitude das possibilidades de evolução. Um universo sem limites que nos convida a buscar hoje ser melhores que ontem, e amanhã melhores que hoje. E que nos enche de esperança de que isso seja possível.

Imagem: Arkadij Schell/Shutterstock

As expressões da superação são marcadas por parâmetros mensuráveis, em especial, velocidade e destreza, elevadas a patamares jamais atingidos pelo homem. A foto que marcará as Olimpíadas de 2024 é uma foto de velocidade: o campeão Gabriel Medina voando depois de surfar uma poderosa onda em Teahupo’o, na Polinésia francesa.

Pratico surfe há mais de 50 anos e posso assegurar que o registro só foi possível graças ao incrível impulso e à velocidade que ele ganhou deslizando para fora de um tubo a uns 50 km/h, nas minhas estimativas.

Aliás, a maioria das modalidades disputadas nas Olimpíadas depende essencialmente da velocidade. Muitos de nós, pessoas comuns, seríamos até capazes de realizar boa parte das peripécias que os competidores fazem. Mas jamais na velocidade com que esses incríveis atletas conquistam suas medalhas.

A inovação e a velocidade geram paixão desde as primeiras civilizações. Na Antiguidade, por exemplo, os romanos construíram estradas para melhorar a celeridade do transporte de tropas e mercadorias. O desejo de quebrar recordes de velocidade, seja em terra, no ar ou no espaço, tornou-se um símbolo de progresso e inovação tecnológica.

Curiosamente, quando tratamos de inovação, encontramos um paradoxo nas Olimpíadas. Inovações nos jogos são bem-vindas, desde que com transparência e garantia de que todos os atletas terão acesso aos mesmos recursos. Se alguma inovação conferir vantagens injustas aos competidores, corre o risco de ser considerada doping tecnológico.

O conceito diz respeito a equipamentos e dispositivos que podem melhorar o desempenho de um atleta de maneiras que não são alcançáveis apenas por meio de treinamento e habilidade natural.

Jogos Olímpicos de Tóquio
(Imagem: yu_photo/Shutterstock)

Um caso marcante foi o dos trajes de natação em poliuretano que reduziam a resistência à água. Se usados, veríamos um salto não natural nos recordes históricos de natação das Olimpíadas. Conceito parecido chegou às competições de surfe da França este ano.

Já está disponível no mercado uma pele sintética de tubarão, desenvolvida para ser aplicada no fundo das pranchas de surfe. Um caso admirável da biomimética inspirada em Leonardo da Vinci, um dos maiores inovadores da história.

O tubarão é um dos animais mais rápidos e evoluídos do planeta, cortando os mares há mais de 450 milhões de anos. Cada centímetro quadrado de sua pele possui quatro mil ranhuras, nanoescamas chamadas placoides, que lhes permite fluir rápida e docemente.

A pele sintética reproduz essa textura e pode conferir mais velocidade às pranchas. No entanto, como nos trajes de natação, quem usasse correria risco de desclassificação. Obviamente, os atletas abriram mão.

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Esses regulamentos rigorosos do Comitê Olímpico Internacional (COI) e das federações esportivas dos países podem parecer inimigos da inovação, mas são essenciais para garantir as mesmas condições nas competições.

Por fim, fica clara a direta conexão entre o desejo de superação, em maior ou menor medida, presente em todos nós, seres humanos, e a infindável capacidade de inovar, da qual todos, indistintamente, nascemos dotados. Perfeita mesmo a criatura de Deus.