Nesse momento, milhares de bactérias estão se multiplicando, criando um lar na sua boca. No entanto, uma delas está fazendo isso de um jeito raro e estranho. A forma inusitada com que Corynebacterium matruchotii, presente na placa bacteriana dentária, se reproduz intrigou cientistas em um novo estudo.
A pesquisa, liderada por um pesquisador do Laboratório de Biologia Marinha dos Estados Unidos, pode ajudar a entender como esses organismos formam um ambiente favorável para hospedar outros micróbios que vivem na boca. Detalhes da investigação foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Como as bactérias normalmente se reproduzem
Grande parte das bactérias conhecidas pela ciência se reproduz de forma assexuada, especificamente por um processo chamado fissão binária. Você deve se lembrar disso das aulas de biologia. Nesse mecanismo, o núcleo celular do organismo se divide em dois e, logo depois, a própria célula se divide também. Assim, uma bactéria se torna duas, e essas vão se multiplicando até serem muitas.
Mas com a Corynebacterium matruchotii, a divisão celular ocorre de um jeito diferente. Cientistas observaram que essas bactérias não se dividem em duas células-filhas, mas em vários novos micróbios em um processo mais raro chamado fissão múltipla.

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Uma reprodução inusitada
- Em um estudo anterior, pesquisadores ficaram intrigados com uma estrutura pontiaguda de “ouriço”, com filamentos de C. matruchotii como base, presente no biofilme que reveste os dentes humanos.
- Ao observar em tempo real como essas estruturas interagem entre si, coexistem, se propagam e crescem, eles descobriram a divisão celular inusitada da bactéria.
- Primeiro, o filamento de C. matruchotii se estende e cresce mais do que o normal de uma célula comum.
- Depois, diversas paredes divisórias chamadas septos se formam ao mesmo tempo.
- Isso ocorre antes que a célula se divida entre 3 e 14 células-filhas completas – um número muito maior do que a divisão celular comum permite.
- De modo geral, a bactéria consegue crescer de forma muito mais rápida, cerca de meio milímetro por dia.
A descoberta pode explicar por que a placa bacteriana dentária é tão persistente
A forma rápida com que C. matruchotii se multiplica pode ajudar a explicar por que a placa bacteriana volta tão rápido aos dentes, mesmo com uma rotina adequada de limpeza.
Essas bactérias formam estruturas densas semelhantes a florestas tropicais microscópicas. Como elas não têm um flagelo para se mover, crescem rapidamente para explorar e encontrar comida. A estratégia ajuda C. matruchotii a se destacar entre outras bactérias na boca. É um jeito único de sobrevivência que a ciência pode usar para entender como pequenos organismos nascem e crescem na nossa boca.