O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou, nesta sexta-feira (6), relatório preliminar da investigação do acidente aéreo envolvendo o avião da Voepass, que caiu em Vinhedo (SP), no mês passado, matando todos as 62 pessoas a bordo.
Segundo o órgão, os pilotos citaram problemas no sistema antigelo assim que o voo começou. “O que temos até o momento é uma fala extraída do cockpit que um dos tripulantes indicava que havia falha no sistema de De-Icing [antigelo]. Isso, todavia, não foi confirmado do sistema de dados [FDR]”, disse o Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, chefe da Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
Quem corroborou com a informação foi o tenente-coronel Paulo Mendes Fróes, também do Cenipa:
“Os tripulantes comentam sobre falhas no sistema de boot das asas [que quebram o gelo]. Na primeira vez, durante a subida, temos o comandante, o piloto em comando, comentando através do CDR, que existia ali uma falha do sistema de airframe”, afirmou.
Fróes também citou que, dois minutos antes do acidente, o copiloto relatou “bastante gelo”: “Existiram duas vezes nos gravadores de voo de voz. Em uma delas, o piloto comenta que houve falha no sistema de airframe [antigelo]. Na segunda delas, o copiloto comenta ‘bastante gelo’. Foram duas vezes que foi comentado durante o voo de 1h e dez minutos sobre o gelo”, afirmou.

Novos detalhes da investigação do acidente aéreo em Vinhedo feita pelo Cenipa
- A instituição também descobriu que o sistema de antigelo do ATR-72 foi acionado algumas vezes pelos pilotos;
- Porém, em certo momento, a aeronave voou seis minutos com o aviso de gelo, mas sem que o sistema de degelo tenha sido ligado pelos pilotos;
- Vale lembrar que, na época do acidente, especialistas confirmaram que o gelo poderia ter ajudado na queda;
- O Cenipa confirmou que o avião passou mesmo por rota severa de gelo, e os registros de manutenção do ATR-72 indicava que ela podia voar nessas condições;
- Por se tratar de um relatório preliminar, ainda não há a causa do acidente. Fróes explicou que, a princípio, o órgão analisou os fatos objetivos relacionados ao voo, não sendo possível, de momento, dizer que uma falha causou o acidente;
- Ainda segundo a instituição, os pilotos, de fato, não relataram emergência durante o período no ar.
Além disso, os dados indicam que o sistema antigelo foi ligado e desligado várias vezes. Contudo, ainda é cedo para afirmar se isso foi causado pela tripulação, ou por uma falha no avião. Nenhuma hipótese foi descartada.
“O sistema era desligado por meio de um botão. Se a tripulação o desligou ou se outra coisa desligava o sistema, não descartamos nenhuma hipótese. Hoje, não temos esses indícios”, disse o tenente-coronel.
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Manutenção do avião
Ainda conforme o Cenipa, todos os registros de manutenção do avião estão atualizados, ou seja, ele foi verificado todas as vezes em que foi necessários. Porém, não se sabe se as manutenções foram feitas da forma que deveriam. Mais análises serão realizadas para confirmar isso ou não.
“Os registros de manutenção estavam atualizados. Agora, a qualidade, se foram efetivos, vai ser analisado”, disse o tenente-coronel Carlos Henrique Baldin. O Cenipa garantiu que o avião tinha as licenças necessárias para voos.
“Registros técnicos de manutenção estavam atualizados. A equipe de investigação analisou os registros técnicos nos dias anteriores ao acidente e verificou que estavam atualizados, segundos os registros”, continuou Fróes.
O relatório também aponta que os pilotos foram treinados para voar em condições de gelo. Treinamentos esses que foram realizados em simuladores. Além disso, estava previsto que, na rota do ATR-72, haveria gelo.
“Era previsto gelo severo na rota e previsão de formação de gelo entre 12 mil pés e 21 mil pés. Essas informações meteorológicas estavam disponíveis via internet”, segundo Fróes.

Item faltante
Nos registros de manutenção de dias antes do acidente analisados pelo Cenipa, foi verificado que o item Pack de número 1 estava inoperante e faz parte do sistema pneumático, que leva ar pressurizado até esse item chamado pack.
Ele cumpre duas funções, sendo, a primeira, pressurizar o avião, controlando o fluxo de ar para o interior da cabine de passageiros e tripulantes. Já sua segunda função é climatizar a aeronave.
Nessa situação, o avião precisa estar, no máximo, a 17 mil pés, E, de fato, o ATR-72 voou nesta altitude. Além disso, o cálculo de combustível deve ser feito com base em 10 mil pés, e não 17 mil pés, algo também realizado no caso deste voo.
Objetivos do relatório divulgado nesta sexta-feira (6)
O chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno, informou que o relatório liberado não foi elaborado para apontar culpados, tampouco imputar responsabilidade criminal. Mas, sim, identificar possíveis fatores ter contribuído para a fatalidade, além de sugerir medidas de segurança para evitar que novos acidentes come este ocorram.
“Os dados aqui apresentados são do que aconteceu nesse acidente. Não vamos entrar na esfera da razão pela qual aconteceu e como aconteceu. Somente dados factuais”, afirmou Fróes.