Como o X/Twitter rompeu bloqueio no Brasil e pode continuar no ar

Mudança tecnológica pode deixar ainda mais difícil um novo bloqueio do X; entenda
Por Gabriel Sérvio, editado por Ana Luiza Figueiredo 18/09/2024 18h17, atualizada em 18/09/2024 22h55
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Na manhã desta quarta-feira (18) os brasileiros se surpreenderam com a volta do X (antigo Twitter). Até o momento, a rede social de Elon Musk continua funcionando, mesmo com determinação de bloqueio pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o que possibilitou a volta da rede social?

Em poucas palavras, uma mudança tecnológica pode deixar ainda mais difícil um novo bloqueio.

X agora usa serviço da Cloudflare

O X passou a usar serviços da Cloudflare. Especializada na área de segurança e tráfego na Internet, a empresa americana é uma das gigantes do setor e também presta serviços para várias empresas e bancos no Brasil.

(Imagem: Cloudfare/Divulgação)

Quem possibilitou a volta da rede social foi um serviço chamado proxy reverso da Cloudflare. Ele redireciona o tráfego do X, conseguindo romper o bloqueio imposto pelos provedores. A abordagem também dificulta a identificação dos IPs usados pela plataforma e um bloqueio total como o anterior. As informações são da Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).

“[A Cloudflare] é uma CDN, CDN é uma sigla em inglês para Content Distribution Network, ou rede de distribuição de conteúdo, como uma tradução direta…”, explicou Wharrysson Lacerda, publisher do Olhar Digital, ao OD News.

Ele continuou: “A CDN basicamente tem uma rede de servidores. Essa rede se espalha por vários pontos do globo e faz com que sempre que você acessa um site — por exemplo, como Olhar Digital —, ao invés de o seu computador, o seu dispositivo precisar “caminhar” até onde está o nosso data center principal em São Paulo, ele não vai fazer isso. Ele vai acessar o data center da CDN que estiver mais próximo dele.”

O que aconteceu é que o X — pelo menos é o que a gente tem de informação —, passou a usar os serviços da Cloudflare. Quando eles mudaram para esse novo serviço de CDN, para essa nova empresa, os números IPs, que são os endereços da internet, esses números podem ter mudado. [Então] esses números não estavam bloqueados pelas operadoras brasileiras. E as pessoas voltaram a ter acesso, mas isso não significa que a ordem judicial tivesse mudado, foi só uma mudança de tecnologia feita do lado do X.

Wharrysson Lacerda, publisher do Olhar Digital

O que é e como funciona o proxy reverso usado pelo X?

O proxy reverso é basicamente um intermediário entre o usuário e o servidor de um site. No lugar de conectar com um servidor original do X, a conexão acontece por um servidor intermediário da própria Cloudfare.

A tecnologia ainda oculta o IP da rede social (o “endereço” do X na internet) e aumenta a segurança, atuando como um escudo de proteção contra ataques hacker, por exemplo.

Um servidor proxy reverso fica na frente dos servidores do X, encaminhando as solicitações do seu navegador e abrindo a página da rede social. No fim, tudo funciona como se estivesse conectado a um servidor da empresa:

O proxy reverso é um intermediário entre o dispositivo do usuário e o servidor de um site, como mostra o diagrama da Cloudfare. (Imagem: Cloudfare/Divulgação)

Se o X cair pode levar vários serviços junto

Bloquear a Cloudflare para tirar o X do ar pode afetar vários serviços essenciais, com bancos e varejistas que também usam serviços da empresa, destaca Basílio Rodríguez Perez, conselheiro da Abrint, em comunicado.

“Não é nada tão complicado assim, especialmente porque estamos falando de uma empresa gigantesca, todos os dados são públicos”, comentou Wharrysson Lacerda. “Não é difícil, tecnicamente falando, bloquear o acesso desse site do X estando embaixo da Cloudflare. É só uma questão de tempo para as operadoras brasileiras identificarem quais são os IPs que precisam ser bloqueados, para ele ser bloqueado novamente.”

Leia mais:

O que deve acontecer nos próximos dias?

A Anatel, trabalhando em conjunto com a Cloudflare, enviou nova notificação para os provedores de internet brasileiros e operadoras para realizar um novo bloqueio do X. Saiba mais aqui.

Gabriel Sérvio é formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase e faz parte da redação do Olhar Digital desde 2020.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.