Barcos de pele de animais foram usados na Europa há 5.000 anos

Estudo sugere que embarcações foram essenciais para caça e comércio há 5.000 anos
Por Thiago Morais, editado por Lucas Soares 22/09/2024 06h00
fundo do mar, oceano
Imagem: Shutterstock/Damsea
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Pesquisadores das Universidades de Lund e Gotemburgo, na Suécia, afirmam que os povos neolíticos da Escandinávia podem ter utilizado barcos construídos com peles de animais para pescar, caçar, viajar e comercializar há cerca de 5.000 anos. O estudo, publicado no Journal of Maritime Archaeology, lança luz sobre as práticas marítimas da chamada cultura da cerâmica cordada, que habitou a região entre 3.500 e 2.300 a.C.

Os responsáveis pelo estudo argumentam que o uso de barcos de pele explicaria a ausência de vestígios arqueológicos dessas embarcações, já que materiais orgânicos se decompõem rapidamente ao longo do tempo. A cultura da cerâmica cordada, conhecida por sua cerâmica distintiva e habilidades marítimas, dependia fortemente da pesca e da caça de focas. Os cientistas acreditam que as peles desses mamíferos aquáticos eram ideais para a construção de barcos resistentes, capazes de navegar em mar aberto.

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Artes rupestres dão indicativos para teoria de barcos escandinavos com peles de animais. Imagem: Martin Kristoffer Hykkerud, Verdensarvsenter para Bergkunst — Alta Museum

A análise de resíduos lipídicos em cerâmicas antigas revelou traços de óleo de foca, reforçando a teoria. Além disso, a descoberta de raspadores e furadores em sítios arqueológicos sugere a produção de peles em larga escala, possivelmente para a confecção de embarcações. “Encontramos enormes quantidades de ossos de foca em sítios habitados por esses povos”, explica o líder do estudo, Mikael Fauvelle. “Sabemos que eles tinham acesso a grandes quantidades de óleo de foca, essencial para impermeabilizar os barcos.”

Barcos podem ter percorrido longas distâncias

Os pesquisadores argumentam que barcos de pele seriam mais adequados para viagens de longa distância do que canoas de troncos escavados, permitindo o transporte de até uma dúzia de pessoas e animais de grande porte, como cervos e ursos. Evidências indiretas, como arte rupestre retratando barcos semitranslúcidos e com apoios de arpão semelhantes a cabeças de animais, também corroboram a hipótese.

A tecnologia de barcos de pele teria permitido à cultura da cerâmica cordada navegar por grandes distâncias no Mar Báltico e nos estreitos de Kattegat – entre a Dinamarca e a Suécia – e Skagerrak – entre a Noruega e a Dinamarca, explicando a presença de artefatos dessa cultura em diversas ilhas e regiões costeiras. Embora os vestígios físicos dos barcos sejam escassos, a combinação de evidências arqueológicas, análises químicas e comparações etnográficas fornece uma base sólida para a teoria. O estudo destaca a importância dessa tecnologia marítima no desenvolvimento das primeiras sociedades escandinavas, revelando um capítulo fascinante da história da navegação.

Estreito de Kattegat, na Dinamarca. Imagem: Shutterstock/Anastacija

A pesquisa não apenas esclarece as práticas marítimas do Neolítico, mas também demonstra a engenhosidade dos povos antigos na adaptação ao seu ambiente. O uso de barcos de pele, provavelmente, representou um avanço significativo na tecnologia naval da época, permitindo a expansão do comércio e da exploração marítima na região escandinava.

Colaboração para o Olhar Digital

Thiago Morais é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Com atuação focada em TV e rádio no início da carreira, já atuou em portais como editor de conteúdo e analista de marketing digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.