E se o X/Twitter voltar? Bluesky já tem estratégia para manter usuários

Executiva do Bluesky aposta nas diferenças para manter usuários engajados na rede "irmã"
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Gabriel Sérvio 24/09/2024 19h03
Tela de login do Bluesky
Rede social de ex-Twitter também estourou no Brasil (Imagem: Koshiro K/Shutterstock)
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A suspensão do X/Twitter no Brasil, no final de agosto, pegou usuários da rede social de surpresa. O Bluesky, então, se tornou uma opção para aqueles que buscavam uma plataforma parecida, chegando a receber 2 milhões de usuários e ficando entre os aplicativos mais baixados no país em poucos dias.

Mas e quando o X/Twitter voltar (algo que pode acontecer em breve)? A diretora de Operações do Bluesky, Rose Wang, não acredita que esse será o fim da rede social “irmã” e aposta em um ambiente mais acolhedor e menos tóxico para manter usuários por lá.

logo do bluesky na frente da bandeira do brasil
Bluesky não está deixando brasileiros na mão: demandas serão atendidas, em tempo (Imagem: Ana Luiza Figueiredo / Olhar Digital)

O bloqueio do X/Twitter no Brasil motivou usuários a migrar para o Bluesky. Há poucos dias, já eram 10 milhões de novas contas na rede social, número que a empresa pretendia atingir apenas no final do ano. Segundo Wang, brasileiros são um terço do total.

Ao contrário do X, suspenso pela falta de representante legal no país, o Bluesky apontou na semana passada uma representação nacional. O anúncio oficial da firma que irá responder pela companhia deve acontecer nos próximos dias. Vale lembrar que a plataforma de Elon Musk também nomeou um representante no país na última sexta-feira (20), a advogada Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição.

Pessoa vendo um celular com o logo do X
X/Twitter pode até voltar, mas Bluesky não está preocupado (Imagem: rafapress/Shutterstock)

E depois que o X/Twitter voltar? Bluesky não ficará vazio

O X/Twitter pretende pedir fim do bloqueio à rede social enquanto prepara documentos para confirmar representante legal no país. E como fica o Bluesky?

Para Rose Wang, ao O Globo, o retorno do X não vai esvaziar a presença brasileira na plataforma vizinha. A executiva aposta que o diferencial da rede social azul está no ambiente mais saudável e menos tóxico, que continuará a ser um atrativo para alguns usuários.

Um dos objetivos da plataforma, inclusive, é dar mais controle do conteúdo ao próprio usuário, algo que Wang espera tornar a internet mais comunitária e manter brasileiros.

Acho que há uma natureza social dos brasileiros que combina muito bem com o Bluesky. As pessoas vêm ao Bluesky para amizade, para conexão. Em vez de buscar polêmicas, procuram entretenimento. E esse é um tipo completamente diferente de plataforma que estamos tentando construir, muito mais voltada para a comunidade.

Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky

Outro fator que pode ajudar nisso é a arquitetura aberta, que permite que desenvolvedores criem novos recursos e que usuários personalizem o que querem ver. Ao invés de um único algoritmo que recomenda o que está em alta, o Bluesky aposta em feeds temáticos de acordo com o interesse das pessoas, propiciando a criação de nichos.

Wang também acredita que o ambiente das redes sociais mudou e que usuários e marcas estão mais distribuídos em diversas plataformas – incluindo no Bluesky, algo que não deve mudar nem com o retorno do X/Twitter.

Marcas e criadores estão encontrando diferentes públicos em diferentes lugares. Isso está acontecendo em todo o mundo, com as pessoas interagindo de forma múltipla nas diferentes plataformas. Não é mais um mundo de única rede, e esperamos que esse comportamento continue, mesmo que o X seja “desbanido”. Ainda veremos as principais marcas e usuários postando tanto no Bluesky quanto no X e no Threads.

Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky
Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky, agradeceu brasileiros no perfil na plataforma (Imagem: Bluesky/Reprodução)

E a moderação?

Um dos fatores que levou ao banimento do X/Twitter no Brasil foi a moderação de conteúdo, permitindo, por exemplo, que contas com mensagens consideradas antidemocráticas continuassem no ar.

O Bluesky quer ser diferente.

Aaron Rodericks, líder da área de segurança da rede social e ex-funcionário do X, aposta em um modelo híbrido, que combina rotulação de conteúdo por parte dos usuários e moderação da própria plataforma. Para ele, isso tem se mostrado eficiente e a chegada de mais brasileiros motivou a empresa a buscar moderadores no país.

Rodericks também admite que, como o Bluesky ainda está em uma escala menor em comparação com outras redes, é possível fazer testes de abordagens de moderação.

bluesky
Bluesky promete vídeos mais longos e monetização no futuro (Imagem: Primakov/Shutterstock)

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Bluesky tem mudanças a fazer – e está trabalhando nisso

Os brasileiros que sentiram falta do X/Twitter e migraram para o Bluesky sentiram falta de alguns recursos famosos, como o trending topics e vídeos. A empresa correu para atender às demandas:

  • GIFs e vídeos foram incluídos aos poucos no Bluesky, buscando se adaptar ao gosto do público brasileiro;
  • A próxima função planejada é o lançamento dos trending topics (aba que mostra os assuntos mais comentados do momento);
  • Até o final do ano, a empresa também quer lançar um modelo de assinatura com recursos premium, que permita a publicação de vídeos mais longos – e deve ajudar criadores de conteúdo a se estabelecer por lá;
  • Anúncios serão outra novidade. A companhia, no entanto, quer evitar o modelo tradicional e aderir a uma publicidade direcionada, baseada nas interações de cada usuário;
  • Monetização também está nos planos, algo que pode ajudar empresas que usam as redes sociais como métrica.

Rose Wang deu um passo atrás e controlou as expectativas dos usuários brasileiros do Bluesky. Ela revelou que, às vezes, não é possível avançar tão rápido porque “estamos garantindo que nosso serviço não caia com a chegada de milhões de usuários”.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Gabriel Sérvio é formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase e faz parte da redação do Olhar Digital desde 2020.