Buraco negro faminto devora estrela e ainda quer sobremesa

Disco ao redor de buraco negro cresce a ponto de causar colisões periódicas com objetos em órbita, que são devorados pelo monstro cósmico
Flavia Correia10/10/2024 08h05, atualizada em 11/10/2024 13h30
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Astrônomos identificaram um fenômeno raro envolvendo um buraco negro supermassivo que, após devorar uma estrela, está utilizando os destroços para abocanhar outro objeto cósmico – como se fosse a sobremesa após o jantar

Descrita em um artigo publicado nesta quarta-feira (9) na revista Nature, a descoberta foi feita com a análise de dados do Observatório de Raios-X Chandra, da NASA, e de outros telescópios.

Ilustrações artísticas do evento mostram um disco de material que se formou após a destruição de uma estrela por forças gravitacionais intensas. Esse disco, ao se expandir, acabou se encontrando com outro objeto em órbita ao redor do buraco negro – que poderia ser outra estrela ou um buraco negro menor. Quando esses dois corpos colidem, ocorrem explosões de raios-X, que foram captadas pelo Chandra.

A imagem digital mostra um disco de material estelar em torno de um buraco negro. Em sua borda externa, uma estrela vizinha está colidindo e voando através do disco. Créditos: Raio-X: NASA / CXC / Queen’s Univ. Belfast / M. Nicholl et al.; Óptico / IR: PanSTARRS, NSF / Pesquisa Legada / SDSS; Ilustração: Soheb Mandhai / A Fênix Astro; Processamento de imagem: NASA / CXC / SAO / N. Wolk

Expansão de buraco negro provoca colisões periódicas com objetos em órbita

Em 2019, astrônomos identificaram uma explosão luminosa, que foi batizada de AT2019qiz e classificada como um “evento de ruptura de maré” (TDE), um fenômeno em que uma estrela é destruída por um buraco negro ao se aproximar demais. 

Paralelamente, eles também observavam rajadas breves e repetitivas de raios-X em torno de buracos negros supermassivos, conhecidas como “erupções quase periódicas” (QPEs).

Segundo a pesquisa, há uma conexão entre os TDEs e as QPEs. Os autores do estudo acreditam que as erupções quase periódicas surgem quando um objeto colide com o disco formado após um TDE. Embora outras explicações sejam possíveis, os cientistas defendem que essa pode ser a origem de algumas QPEs.

No ano passado, com o auxílio do Chandra e do Telescópio Espacial Hubble, a equipe observou os destroços remanescentes do evento AT2019qiz. Foi percebido um sinal fraco no início e no fim das observações, mas um sinal intenso no meio, sugerindo uma atividade incomum. 

Uma imagem da galáxia hospedeira do evento de perturbação de maré AT2019qiz, obtida pelo telescópio Pan-STARRS. O TDE está na mira, bem no centro da galáxia. A barra de escala tem cerca de 17.000 anos-luz. A estrela azul é provavelmente coincidente em primeiro plano na Via Láctea. Crédito: Nicholl et al.

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Além disso, o telescópio NICER (sigla em inglês para Explorador da Composição do Interior de Estrelas de Nêutrons), da NASA, mostrou explosões repetidas de raios-X a cada 48 horas, algo confirmado por dados de arquivo do Observatório Swift e do telescópio AstroSat, da Índia.

As observações permitiram determinar que o disco ao redor do buraco negro havia crescido a ponto de causar colisões periódicas com objetos em órbita, resultando nas erupções de raios-X. 

Os autores estão empolgados para identificar novas oportunidades de explorar esses fenômenos em busca de mais QPEs, com implicações para futuras missões de detecção de ondas gravitacionais.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.