Um dos fósseis mais antigos do mundo foi encontrado no Brasil. Ele pertence a um réptil que viveu há cerca de 237 milhões de anos. Segundo os cientistas, a descoberta pode ajudar a explicar a ascensão dos dinossauros no nosso planeta.
Réptil viveu onde hoje fica o sul do Brasil
- Chamado de Gondwanax paraisensis, o quadrúpede era praticamente do tamanho de um pequeno cachorro, medindo cerca de um metro e pesando entre três e seis quilos.
- O réptil ainda tinha uma longa cauda e provavelmente vagava por onde hoje fica o sul do Brasil.
- Os cientistas explicam que a criatura viveu em uma época em que o mundo era muito mais quente.
- O fóssil foi identificado como um novo silesaurídeo, um grupo extinto de répteis.
- Gondwanax significa “lorde de Gondwana”, que se refere às terras da região sul do supercontinente da Pangeia, que existia antes da separação dos continentes.
- Já paraisensis é uma homenagem à cidade de Paraíso do Sul, no Rio Grande do Sul, onde o fóssil foi encontrado em 2014.

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Importância no estudo da evolução dos dinossauros
Quando foi encontrado, o fóssil estava coberto por uma espessa camada de rocha e, inicialmente, apenas partes das vértebras eram visíveis. Os restos mortais do animal foram desenterrados de uma camada rochosa do período triássico, entre 252 e 201 milhões de anos atrás.
Isso significa que o réptil viveu no tempo em que os dinossauros surgiram, assim como os mamíferos, os crocodilos, as tartarugas e os sapos. Paleontólogos ainda debatem se o Gondwanax paraisensis era um dinossauro ou um precursor das criaturas que dominaram o planeta.

De acordo com o estudo, por ser tão antigo, o fóssil nos dá pistas de como surgiram os dinossauros. Entender as características desses precursores joga uma luz sobre o que foi crucial para o sucesso evolutivo dos dinossauros, concluíram os pesquisadores.
Isso porque, desde o século XIX, os cientistas acreditam que os dinossauros possuem um ancestral comum, surgido no Período Triássico há cerca de 200 a 250 milhões de anos, explicou Steve Brusatte, paleontólogo na Universidade de Edimburgo (Escócia) e não esteve envolvido no estudo, ao The New York Times.
Esses répteis chamavam-se arcossauros, sendo que alguns deles compartilhavam estruturas anatômicas. Eles eram divididos em três subgrupos principais: terópodes predadores, saurópodes de pescoço longo e ornitísquios (este último inclui os herbívoros de bico, como triceratopes, estegossauros e Iguanodontes).
Porém, mesmo que alguns dos terópodes e saurópodes serem do Triássico de 230 milhões de anos, existem “apenas alguns fósseis fragmentários e fragmentários de atropelamentos” que poderiam possivelmente, “se você apertar os olhos”, serem ornitísquios do Triássico, disse Brusatte.
Com a ausência de evidências mais concretas, alguns pesquisadores passaram a se perguntar se os ornitísquios ancestrais não estariam escondidos por aí.
Aí, entra em ação os silesaurídeos, misteriosos membros de uma família de onívoros de pequeno e médio porte. Segundo Rodrigo Temp Müller, paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e autor do novo estudo, esse tipo de dinossauro são considerados precursores diretos dos dinossauros, ou, pelo menos, parentes muito próximos.
Há paleontólogos, contudo, que entendem que os silesaurídeos não sejam parentes próximos, mas, sim, um agrupamento artificial que continha alguns dos ancestrais ornitísquios.
Até porque muitos deles possuem características anatômicas específicas e idênticas às dos ornitísquios mais novos, como ossos do tornozelo e mandíbulas bicudas.
“O problema é que temos muito material de silesaurídeos primitivos, mas as formas que provavelmente são mais relacionadas aos ornitísquios são raras”, afirmou Müller.
O pesquisador brasileiro acrescentou ainda que os primeiros silesaurídeos costumam ter várias características primitivas que dificultam estabelecer sua linhagem. Além disso, o material de membros mais novos da família não costuma ter partes mais úteis de sua anatomia, como crânios e membros anteriores.
O Gondwanax estudado também carecia de itens específicos, pois seu fêmur não tinha características específicas que conectasse os músculos da perna à cauda. Isso, segundo Müller, sugere que ele andava com menor eficiência que outros silesaurídeos e dinossauros.
Mas nem tudo estava perdido, já que, em contraste com outros répteis e membros antigos de sua família, o fóssil brasileiro possui três vértebras nos quadris em vez de duas. Essa característica é parte de tendência relacionada ao aumento de vértebras na região parecida distintamente com dinossauros.
Portanto, é possível teorizar que o Gondwanax e seus parentes são ornitísquios do Triássico, ou seus ancestrais diretos, o que os qualificam como dinossauros. Se for verdade, diz Brusatte, isso adicionará, na linha do tempo dos ornitísquios, de sete a dez milhões de anos, além de sugerir que os dinossauros eram muito mais comuns e disseminados em nosso planeta do que a ciência imaginava.
Mas, para se ter certeza da situação, mais estudos precisam ser realizados. Brusate entende que “ainda é uma questão em aberto”, e Müller concorda que, “neste ponto, é realmente confuso”.
“A origem dos dinossauros é tão obscura agora que não há consenso — ambas as hipóteses são bem apoiadas. Se tivermos mais material, provavelmente resolveremos isso.”
Para ajudar nas investigações, mais espécimes podem estar chegando, pois, no início deste mês, Müller e outros pesquisadores de sua equipe descobriram mais um espécime de sileraurídeo, que, para a felicidade dos paleontólogos, está mais completo que o anterior. E tem mais — ele é, provavelmente, outro Gondwanax.
O paleontólogo brasileiro planeja preparar o novo fóssil para estudos muito em breve, e espera que ele possa contribuir ainda mais com novas evidências, visando, assim, elucidar esse mistério que envolve a história dos dinossauros.
“Acredito que, nos próximos anos, haverá muito mais espécimes de silesaurídeos e parentes de dinossauros”, finalizou Müller.