As primeiras “cidades” do mundo foram abandonadas – mas por qual motivo?

Um novo estudo aponta que o jeito de viver nos primeiros assentamentos do mundo gerou reflexos que forçaram uma mudança nas sociedades
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Lucas Soares 22/10/2024 15h52
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Imagem: Kasbah/Shutterstock
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A história humana é repleta de segredos. Um deles diz respeito ao abandono dos primeiros mega-assentamentos. Uma nova teoria aponta uma explicação para este que é considerado o primeiro colapso urbano da humanidade.

Doenças teriam provado mudanças na sociedade daquele período

  • Ao longo dos anos, arqueólogos apresentaram diversas explicações para estes fatos antigos.
  • A maioria delas tem relação com as mudanças climáticas, superpopulação, pressões sociais ou até a combinação destes fatores.
  • Mas agora um novo trabalho adicionou uma nova hipótese à discussão: as doenças.
  • Segundo esta teoria, a convivência com animais levou a doenças zoonóticas que passaram a infectar também humanos.
  • Os surtos podem ter levado o abandono de grandes assentamentos do passado.
  • As informações são do The Conversation.
Assentamento antigo de Çatalhöyük (Imagem: acsen/Shutterstock)

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Exames de DNA revelaram presença de salmonela e tuberculose

Çatalhöyük, na atual Turquia, é a vila agrícola mais antiga do mundo, tendo sido criada há mais de 9 mil anos. Muitos milhares de pessoas viviam em casas de tijolos de barro tão apertadas que os moradores entravam por uma escada por um alçapão no telhado. Eles até enterraram ancestrais sob o chão das casas. Apesar de muito espaço no planalto da Anatólia, as pessoas se aglomeraram.

Durante séculos, as pessoas pastoreavam ovelhas e gado, cultivavam cevada e produziam queijo. Pinturas evocativas de touros, figuras dançantes e uma erupção vulcânica sugerem suas tradições folclóricas. Eles mantiveram suas casas bem organizadas, varrendo o chão e mantendo caixas de armazenamento perto da cozinha, localizadas sob o alçapão para permitir que a fumaça do forno escapasse.

Essas ricas tradições terminaram no ano 6 mil a.C., quando Çatalhöyük foi misteriosamente abandonada. A população se dispersou em assentamentos menores. Para as populações que persistiram, as casas de tijolos de barro agora ficavam separadas.

Casas ficavam grudadas uma nas outras (Imagem: acsen/Shutterstock)

Os arqueólogos encontraram ossos humanos misturados com ossos de gado em sepultamentos e montes de lixo no local. Para os pesquisadores, a aglomeração de pessoas e animais provavelmente gerou doenças zoonóticas em Çatalhöyük. Exames de DNA feitos em restos mortais daquele período identificaram tuberculose de gado na região já em 8.500 a.C. Além disso, foram encontros indícios da doença em crianças, bem como salmonela em 4.500 a.C.

Assumindo que a contagiosidade e a virulência das doenças neolíticas aumentaram com o tempo, assentamentos densos como Çatalhöyük podem ter atingido um ponto de inflexão em que os efeitos da doença superaram os benefícios de viver juntos.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.