Seleção natural: humanos estão se adaptando à falta de oxigênio no Tibete

As mulheres tibetanas evoluíram de uma forma que equilibram as necessidades de oxigênio do corpo sem sobrecarregar o coração
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 07/11/2024 14h03
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Imagem: Tenzin and Li PhotographyShutterstock
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O resultado de um estudo recente comprova, na prática, que os seres humanos continuam evoluindo. Segundo os pesquisadores responsáveis pelo trabalho, as comunidades que vivem nas grandes altitudes no platô do Tibete estão se adaptando aos baixos níveis de oxigênio.

As mulheres tibetanas evoluíram de uma forma que equilibram as necessidades de oxigênio do corpo sem sobrecarregar o coração. Os cientistas afirmam que este é um caso de seleção natural em andamento.

Mulheres foram capazes de gerar mais bebês

  • Durante o trabalho, a equipe coletou dados sobre o histórico reprodutivo, medidas corporais, amostras de DNA e fatores sociais de 417 mulheres tibetanas que tinham entre 46 e 86 anos. 
  • Elas viviam entre 3.657 metros e 4.267 metros acima do nível do mar, em Mustang, no Nepal, extremo sul do platô do Tibete.
  • O objetivo era entender como mecanismos de distribuição do oxigênio no organismo influenciavam o número de partos de bebês vivos. 
  • Isso porque nascimentos são considerados uma medida-chave de boa adaptação evolutiva.
  • As conclusões foram descritas em estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Tibetanos vivem em áreas de grande altitude (Imagem: Storm Is Me/Shutterstock)

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Após anos de análises, os pesquisadores descobriram que as mulheres que tiveram mais filhos tinham uma coleção única de características sanguíneas e cardíacas, o que auxilia seus corpos a distribuírem oxigênio. Estas mulheres têm maior probabilidade de ter mais bebês e eles têm maior probabilidade de sobreviver à vida adulta e passar estas características para a próxima geração.

O estudo aponta que as mulheres que deram à luz a mais crianças vivas apresentavam níveis médios de hemoglobina, mas seu nível de saturação de oxigênio era alto. Isso significa que suas células recebem oxigênio de forma mais eficiente e sem aumentar a viscosidade do sangue (quanto mais “grosso” o sangue, maior o esforço do coração).

Idosa nepalesa tecendo algodão na região do Tibete (Imagem: Keshav Dulal/Shutterstock)

Os corações destas mães ainda tinham ventrículos esquerdos mais largos do que a média. Esta é a câmara do coração responsável por bombear sangue oxigenado para o corpo. Levando tudo isso em consideração, esses mecanismos aumentam o transporte e entrega de oxigênio e tornam o corpo humano capaz de aproveitar melhor o ar que respira.

Por fim, os cientistas identificaram que as populações daquela região têm uma variante única do gene EPAS1, que regula a proteína sanguínea. Isso teria se originado com os hominídeos de Denisova, que viveram na Sibéria há cerca de 50 mil anos e cujos descendentes migraram posteriormente para o platô tibetano. Junto com as outras características, como aumento de fluxo sanguíneo pulmonar e ventrículos mais largos, permitiram maior sucesso reprodutivo e adaptativo.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.