Montadoras rivais questionam produção nacional de chinesas e pedem aumento de impostos

Foco da discussão é a montagem local de veículos asiáticos
Rodrigo Mozelli13/12/2024 22h41, atualizada em 16/12/2024 19h19
Bandeira da China ao fundo, com a sombra de um carro elétrico sendo carregado
(Imagem: RaffMaster/Shutterstock)
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A disputa entre montadoras tradicionais e as marcas chinesas que vêm ganhando espaço no mercado brasileiro ganhou novo capítulo. Segundo o UOL, o foco da discussão é a montagem local de veículos asiáticos, iniciada por empresas, como Caoa Chery, e prevista para marcas, como BYD e GWM, a partir de 2025.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), associação que representa os fabricantes nacionais de veículos, argumenta que, em muitos casos, essa produção não deveria ser considerada “local” por utilizar, predominantemente, componentes importados, sugerindo que esses carros deveriam ser sujeitos a taxação maior.

Os carros produzidos pelas montadoras citadas utilizam regimes conhecidos como Completely Knocked Down (CKD) e Semi Knocked Down (SKD). No CKD, os veículos são montados a partir de peças separadas, como motor, chassi e carroceria, exigindo maior investimento em infraestrutura e ferramentas. Já no SKD, o processo é simplificado, com veículos chegando quase prontos e necessitando apenas de etapas finais de montagem.

Atualmente, a Caoa Chery opera sob o regime CKD, enquanto a BYD começou a montagem em Camaçari (BA) no formato SKD, com planos de nacionalizar 70% de sua produção até 2030. Já a GWM, que inicia sua produção em 2025, promete processo que não seguirá o CKD tradicional, incluindo pintura e montagem de componentes localmente em Iracemápolis (SP).

Logo da BYD em fachada
BYD está investindo pesado no Brasil (Imagem: Robert Way/Shutterstock)

Debate sobre taxação de montadoras chineas

  • A Anfavea pleiteia a elevação imediata das alíquotas para CKD e SKD, que, atualmente, variam entre 16% e 18%, estabelecidas em 2022 pela Câmara do Comércio Exterior (Camex);
  • O plano atual prevê a retomada da taxa de 35% apenas em 2028;
  • Durante o Congresso AutoData Perspectivas 2025, o presidente da Anfavea, Márcio Leite, defendeu a mudança, destacando a necessidade de proteger os investimentos no Brasil;
  • Por outro lado, representantes das montadoras chinesas criticam a proposta;
  • Ricardo Bastos, da GWM, enfatizou a importância da estabilidade regulatória para garantir investimentos.

Leia mais:

Protecionismo: prós e contras

Especialistas divergem sobre o impacto de medidas protecionistas. Milad Kalume Neto, consultor da indústria automotiva, destacou ao portal que um aumento de impostos pode proteger empregos e dar mais tempo à indústria nacional para se modernizar. Por outro lado, pode desestimular a competitividade e inovações.

Kalume Neto também avalia que a ofensiva da Anfavea é tentativa de conter o avanço das marcas chinesas, cujos modelos vêm pressionando os preços do mercado local. “Os produtos tecnológicos e competitivos assustaram a indústria, que, agora, busca frear esse movimento”, analisou.

Impactos no consumidor

Caso a proposta da Anfavea seja aceita, os custos de importação aumentariam, impactando diretamente os preços ao consumidor, especialmente em cenário de dólar elevado. Mesmo assim, GWM e BYD mantêm seus planos de nacionalização. Ambas as empresas afirmam que a previsibilidade é essencial para o planejamento e alertam que um aumento repentino de impostos prejudicaria tanto o setor, quanto os consumidores.

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) também apoia a recomposição dos impostos, mas afirma que a produção em regime CKD/SKD não esteve em pauta nas discussões com o governo.

Enquanto o impasse continua, o futuro da produção local e os preços no mercado brasileiro seguem no centro do debate, refletindo a transformação do setor automotivo em meio a uma crescente disputa global.

Fábrica da Caoa em Jacareí
Fábrica da Caoa em Jacareí (SP) (Imagem: Divulgação/Caoa Chery)

O que dizem as montadoras citadas

A BYD, em nota ao UOL, acusou a Anfavea de tentar frear o avanço tecnológico. “A velha indústria brasileira busca impor barreiras para atrasar o desenvolvimento e as novas tecnologias”, afirmou a montadora.

O Olhar Digital também entrou em contato com a BYD e aguarda resposta. Também estamos tentando contato com a Caoa Chery. Assim que tivermos as respostas, atualizaremos esta reportagem.

Ao OD, a GWM disse que é contra o posicionamento das montadoras de veículos a combustão e que já manifestou sua posição ao governo. Confira, abaixo, a nota na íntegra:

A GWM discorda da posição da associação das montadoras de carros a combustão, por isso a GWM e a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) já se posicionaram perante ao governo contrários a essa demanda por alguns fatores, entre eles destaca-se a importância da estabilidade de regras, que é fundamental para a definição de qualquer investimento no país.

GWM, em nota enviada ao Olhar Digital

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.