Intestino pode ser um “alvo” promissor para tratar depressão; entenda

Estudo sugere que direcionar antidepressivos para o intestino pode diminuir efeitos colaterais e riscos do tratamento na gravidez
Por Nayra Teles, editado por Lucas Soares 13/12/2024 05h10
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Imagem: gerada por inteligência artificial (Dall-E)/Nayra Teles
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A ligação entre a mente e a barriga vai além da sinalização de quando precisamos comer. Diversos estudos mostram como essa conexão pode afetar até a nossa saúde mental. O Olhar Digital já abordou esse tema. Agora, um novo estudo sugere que o intestino pode ser um alvo mais promissor para o tratamento da depressão e da ansiedade.

A pesquisa aponta que direcionar medicamentos antidepressivos para uma parte específica do intestino pode melhorar os sintomas adversos, além de prevenir problemas digestivos em bebês expostos aos remédios durante a gravidez.

Os resultados da investigação foram publicados na revista Gastroenterology.

Tratamento com antidepressivos pode afetar o intestino

Grande parte das pessoas que enfrentam condições de saúde mental, como ansiedade e depressão, também têm dificuldades digestivas, como intestino irritável ou constipação, causadas pela ligação entre o cérebro e o intestino.

Um dos principais tratamentos antidepressivos, chamados de ISRSs (inibidores seletivos de recaptação de serotonina), também pode interferir nessa conexão, causando efeitos colaterais, como problemas gastrointestinais e ansiedade no início do uso.

Além disso, durante a gravidez, esses medicamentos podem atravessar a placenta e o leite materno, aumentando o risco de complicações para o bebê, embora deixar de tratar a mãe também traga riscos graves.

A conexão cérebro-intestino pode ajudar a aprimorar tratamentos de condições de saúde mental. Esta é uma ilustração gráfica dos resultados do estudo. – Imagem: Gastroenterology.

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Os ISRSs ajudam a aumentar os níveis de serotonina, um neurotransmissor responsável por controlar o humor, no cérebro. Curiosamente, a maior parte da serotonina do corpo é produzida no intestino. Isso sugere que o órgão tem um papel importante nos efeitos dos antidepressivos. Por isso, pesquisadores buscaram entender se focar a terapia no alvo intestinal poderia ser eficaz.

O intestino pode ser um alvo promissor para tratar depressão

  • Em um novo experimento, cientistas estudaram ratos modificados para não ter um transportador de serotonina no epitélio intestinal — uma fina camada de células que reveste os intestinos delgado e grosso.
  • Os animais foram analisados em duas fases principais: enquanto estavam sendo gerados e depois na fase adulta.
  • A remoção do transportador de serotonina elevou os níveis do hormônio em ambos os grupos de ratos, levando a melhorias nos sintomas de ansiedade e depressão. Além disso, reduziu os efeitos adversos no intestino.
  • Os pesquisadores descobriram que os nervos vagos, que ligam o intestino ao cérebro, são essenciais para que a serotonina no intestino influencie o humor.
  • Quando essa comunicação foi bloqueada em camundongos, os benefícios no tratamento da ansiedade e depressão não ocorreram.
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Os antidepressivos podem aumentar o risco de bebês desenvolverem constipação no primeiro ano de vida, mostra estudo – Reprodução: freestocks/Unsplash

Impacto dos antidepressivos na gravidez

A equipe de pesquisa também investigou o uso de antidepressivos durante a gravidez. Eles acompanharam o tratamento de mais de 400 mulheres — um quarto delas tomava antidepressivos — e o desenvolvimento de seus bebês durante o primeiro ano de vida.

Descobriu-se que os medicamentos podem aumentar o risco de bebês desenvolverem constipação no primeiro ano de vida. Entre as crianças com um ano, 63% apresentaram constipação, enquanto apenas 31% das crianças cujas mães não tomaram antidepressivos tiveram o problema digestivo.

Embora essa evidência seja importante, os cientistas alertam que ainda são necessárias mais pesquisas. Ficar sem tratar os problemas de saúde mental na gestação também é arriscado para a mãe e o bebê. Por isso, as gestantes devem discutir com seus médicos a melhor opção de tratamento.

Quem sabe, no futuro, os antidepressivos possam ser focados em alvos mais específicos no intestino, proporcionando uma terapia mais segura para todos.

Nayra Teles
Redator(a)

Nayra Teles é estudante de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e redatora no Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.