Amazon ignorou medidas para proteger funcionários de lesões, diz relatório

Relatório do Senado dos EUA revela que a Amazon ignorou estudos internos ligando metas rígidas a altas taxas de lesões
Ana Luiza Figueiredo16/12/2024 17h17, atualizada em 17/12/2024 20h47
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Por anos, defensores dos direitos dos trabalhadores e alguns representantes do governo dos Estados Unidos acusaram a Amazon de impor cotas rigorosas de produção que resultam em altas taxas de lesões entre os funcionários de seus centros de distribuição. A empresa, no entanto, tem consistentemente negado essas alegações, afirmando que não utiliza cotas tão estritas e que suas taxas de lesão estão próximas ou abaixo da média do setor.

No último domingo, uma investigação conduzida pela maioria do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado dos EUA, liderado pelo senador Bernie Sanders, revelou documentos internos da Amazon que demonstram a ligação entre as cotas de produção e taxas elevadas de lesões.

O relatório de 160 páginas aponta que a própria equipe de saúde e segurança da Amazon recomendou diminuir a rigidez das cotas para reduzir as lesões, mas essas sugestões foram rejeitadas por executivos da empresa preocupados com o impacto no desempenho.

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Bernie Sanders lidera comitê do Senado Americano que questiona a Amazon sobre a saúde de seus funcionários (Imagem: Joseph Sohm / Shutterstock.com)

Estudos internos apontam riscos a funcionários da Amazon

Em um estudo interno conhecido como Projeto Elderwand, iniciado em 2021, especialistas da área de saúde da Amazon determinaram um limite superior de movimentos repetitivos que os trabalhadores poderiam realizar antes de as taxas de lesão aumentarem significativamente. Esse limite correspondia a cerca de 216 itens por hora durante um turno de 10 horas. Entretanto, muitos trabalhadores frequentemente ultrapassavam esse limite, alcançando mais de 266 itens por hora devido às metas de produtividade.

Outro estudo interno, chamado Projeto Soteria, conduzido entre 2020 e 2022, concluiu que um ritmo de trabalho mais acelerado estava diretamente relacionado a taxas mais altas de lesões. O estudo recomendava suspender penalidades para funcionários que não atingissem metas e aumentar o tempo de descanso, medidas que mostraram reduzir significativamente os índices de lesões.

Apesar disso, ambos os estudos tiveram suas recomendações rejeitadas pelos executivos da empresa, que temiam que essas mudanças prejudicassem a produtividade ou a experiência do cliente. Uma terceira investigação interna contestou os achados do Projeto Soteria, sugerindo que o risco de lesão estaria mais relacionado às características dos trabalhadores do que ao ritmo de trabalho.

Respostas de porta-voz da Amazon e críticas

A porta-voz da Amazon, Kelly Nantel, afirmou ao NYT que os relatórios citados pela equipe de Sanders foram posteriormente considerados inválidos pela própria empresa. “O relatório do senador Sanders está errado nos fatos e combina documentos desatualizados e anedotas não verificáveis para criar uma narrativa predefinida”, disse Nantel.

Nantel também afirmou ao Washington Post que o Projeto Soteria não foi implementado porque uma equipe interna que avaliou seu trabalho e descobertas e “determinou que eles não eram válidos.” Já o Elderwand foi um programa piloto para testar o impacto de “microintervalos” em distúrbios musculoesqueléticos, que “demonstrou que a intervenção foi ineficaz,” disse Nantel.

Ela destacou uma decisão judicial recente no estado de Washington que rejeitou alegações de que a Amazon exigia ritmos de trabalho inseguros.

Por outro lado, Sanders criticou duramente a postura da empresa. “As condições de trabalho chocantemente perigosas nos armazéns da Amazon, reveladas neste relatório de 160 páginas, são absolutamente inaceitáveis”, afirmou ele em um comunicado. “Os executivos da Amazon repetidamente optaram por priorizar os lucros em detrimento da saúde e segurança de seus trabalhadores, ignorando recomendações que reduziriam substancialmente as lesões.”

Resposta da Amazon

O Olhar Digital entrou em contato com a Amazon e pediu um posicionamento sobre o relatório apresentado por Sanders. Esta publicação será atualizada em caso de resposta da empresa.

A empresa ainda publicou uma declaração extensa sobre o relatório do Senado americano. Nela, a Amazon afirmou que a segurança dos funcionários continua sendo sua principal prioridade e refutou as alegações apresentadas pelo relatório do senador Bernie Sanders. A empresa destacou que a investigação utilizou informações seletivas e descontextualizadas, distorcendo os fatos.

Segundo a companhia, os índices de acidentes vêm diminuindo consistentemente nos últimos anos, mesmo com o aumento da produtividade e o crescimento organizacional. A Amazon também criticou o uso do documento Project Soteria na investigação, alegando que ele possui falhas metodológicas e que conclusões semelhantes foram rejeitadas por tribunais dos Estados Unidos.

Além disso, a empresa reiterou que suas políticas de segurança são robustas e alinhadas às melhores práticas ergonômicas, citando investimentos significativos, como estações de trabalho ajustáveis e algoritmos que otimizam processos. A Amazon também questionou a validade dos relatos anônimos utilizados como base para as acusações.

Investigações reguladoras e penalidades

  • Segundo o New York Times, os achados do relatório do Senado são consistentes com outras investigações conduzidas por órgãos reguladores nos últimos anos.
  • Em 2023, o governo da Califórnia multou a Amazon em quase US$ 6 milhões por violações de leis que exigem divulgação de cotas de produção e proíbem metas que impeçam pausas obrigatórias ou o cumprimento de normas de saúde.
  • Reguladores federais também identificaram riscos elevados de lesões relacionadas à alta frequência de levantamento de itens pesados e às horas prolongadas de trabalho.
  • Embora a Amazon tenha recorrido de diversas citações e multas, a empresa também afirmou ter investido centenas de milhões de dólares para melhorar a segurança nos últimos anos.
  • Dados recentes da empresa indicam uma queda significativa nas lesões mais graves, mas os trabalhadores e os críticos argumentam que as práticas de metas rígidas ainda persistem.

Disputas sobre dados de lesões

Um dos pontos levantados pelo relatório é como a Amazon compara suas taxas de lesões com o restante do setor. A empresa afirma que suas taxas estão próximas da média de grandes armazéns, mas a equipe de Sanders argumenta que esses números são distorcidos por incluir a própria Amazon no cálculo da média. Excluindo a Amazon da análise, a taxa de lesões da empresa é consistentemente quase duas vezes maior do que a de seus concorrentes.

funcionário da Amazon
Amazon afirma que suas taxas de lesões se comparam a de outros grandes armazéns, mas este dado é questionado pela equipe de Sanders (Imagem: Frederic Legrand – COMEO / Shutterstock.com)

Além disso, o relatório alega que a Amazon dificultou o acesso dos trabalhadores a cuidados médicos adequados, incentivando o uso de instalações internas que oferecem apenas primeiros socorros, mesmo em casos de possíveis lesões graves. A empresa nega essas práticas e afirma cumprir ou exceder as exigências legais em relação a acomodações para trabalhadores lesionados.


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Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

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