Como os animais mais antigos do planeta lidam com a poluição dos oceanos

Novo estudo descobriu como as esponjas marinhas conseguiram contornar os efeitos gerados pelo plástico nos oceanos
Alessandro Di Lorenzo09/01/2025 06h01
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Imagem: xalien/Shutterstock
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Há milhões de anos, as esponjas marinhas vêm se adaptando às mudanças do ambiente. No entanto, estes que são considerados os animais mais antigos que habitam a Terra agora enfrentam um novo desafio.

De acordo com um novo estudo, a poluição gerada pelo plástico pode causar sérios prejuízos a estas criaturas. E foi por isso que, mais uma vez, a evolução deu as caras, permitindo que os seres vivos criassem uma nova foram de se defender.

Plásticos bloqueiam as contrações das esponjas

  • De formas e tamanhos variados, as esponjas marinhas são exclusivamente aquáticas e responsáveis por filtrar milhares de litros de água por dia.
  • A água passa livremente pelas esponjas, e este processo é essencial para sua alimentação, já que, ao passarem pelo seu corpo, as partículas de alimento são capturadas e digeridas pelas suas células.
  • A água que é expelida carregará com ela detritos que são essenciais para outros organismos.
  • Mas, ao permitir livremente a passagem de água, as esponjas estão expostas a partículas indesejáveis, como grãos de areia ou, atualmente, microplásticos.
  • Dentre diversos mecanismos de proteção, a esponja desenvolveu a capacidade de contração sincronizada de suas células, alterando rapidamente seu volume corpóreo e expelindo assim, de maneira mais eficaz, a água em seu corpo.
  • E é essa capacidade que pode ser comprometida pelos plásticos.
Esponjas marinhas são afetadas pela poluição dos oceanos (Imagem: PixSaJu/Shutterstock)

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Animais desenvolveram foram de capazes de degradar a substância

Um novo estudo conduzido por Liv Goldstein Ascer, doutora em fisiologia pela Universidade de São Paulo (USP), avaliou os impactos nos animais. Em artigo publicado no The Conversation ela descreveu os resultados da pesquisa feita com uma esponja marinha muito comum em áreas poluídas: a esponja-sol (a Hymeniacidon heliophila).

A pesquisadora focou a análise nos ftalatos, substância química utilizada na produção de plástico para torná-lo mais maleável. Esses aditivos se dissociavam dos polímeros e se dispersavam livremente na coluna d’água, sem que houvesse a presença de plástico na região.

A cientistas explica que os produtos químicos, já conhecidos da ciência por mimetizarem ações de diferentes hormônios em modelos vertebrados (chamados de disruptores endócrinos), eram capazes de bloquear momentaneamente as contrações das esponjas. Os animais não precisam destes movimentos para sobreviver em condições normais, mas para um organismo que não se move, perder essa capacidade pode ser uma sentença de morte em caso de movimento intenso da areia, por exemplo.

Esponjas marinhas conseguiram contornar os efeitos gerados pelo plástico nos oceanos (Imagem: Jolanta Wojcicka/Shutterstock)

Técnicas clássicas como a histologia (cortes seriados do organismo em parafina) foram usadas para avaliar as alterações nos canais das esponjas por onde a água passa. Além disso, técnicas modernas, como o sequenciamento genético total do organismo e seus simbiontes (microorganismos que vivem nas esponjas) e a proteômica, análise que permite quantificar as proteínas produzidas ou não por esses organismos, também foram adotados.

A conclusão do trabalho foi que o ftalato bloqueia o cálcio, uma molécula essencial para os animais. Já através de análises de bactérias, que estão intimamente associados à esponja, foi possível identificar que os microrganismos estavam produzindo proteínas capazes de degradar a substância, o que pode ter levado a uma retomada das contrações.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.