Meta afrouxa regras e Justiça será a única arma contra discurso de ódio

Mudança nas diretrizes da Meta pode aumentar o risco de proliferação de conteúdo ofensivo nas redes sociais
Gabriel Sérvio09/01/2025 12h26, atualizada em 09/01/2025 12h27
Celular com logomarca da Meta na tela na frente de monitor com foto de Mark Zuckerberg com cara franzida
Rede global classificou afirmação de Zuckerberg como "falsa" (Imagem: Muhammad Alimaki/Shutterstock)
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Em uma decisão polêmica, a Meta — empresa controladora do Facebook, Instagram e Threads — anunciou na última terça-feira (7) uma mudança significativa em suas diretrizes de conteúdo. A partir de agora, a empresa deixará de remover de forma proativa publicações com teor discriminatório contra pessoas LGBTQIA+ e migrantes, abrindo espaço para a proliferação de discursos de ódio em suas plataformas.

A nova política, que já está em vigor nos Estados Unidos e no Reino Unido, permite, por exemplo, que usuários associem pessoas LGBTQIA+ a doenças mentais e que utilizem linguagem ofensiva contra migrantes em discussões sobre temas políticos ou religiosos.

Enquanto a empresa justifica a mudança alegando que busca “ampliar o espaço para discussões sensíveis”, críticos apontam para o risco de normalização do discurso de ódio e aumento da discriminação online.

O que muda no Brasil com a nova política da Meta?

No Brasil, a mudança já levanta sérias preocupações. Segundo o Marco Civil da Internet, as redes sociais só podem ser responsabilizadas por conteúdo ilegal se houver ordem judicial para sua remoção. Com a nova política da Meta, usuários que se sentirem ofendidos por publicações discriminatórias terão que recorrer aos tribunais para que o conteúdo seja retirado do ar.

Especialistas em direito digital ouvidos pela Folha também alertam para o aumento de ações judiciais contra a Meta, já que a empresa não se responsabilizará mais pela remoção proativa de conteúdo ilegal.

Celular com logomarca da Meta na tela colocado em cima de teclado de notebook
Mudança na política da Meta coloca em risco a segurança de grupos minoritários e aumenta a necessidade de ações judiciais para remover conteúdo discriminatório. (Imagem: miss.cabul/Shutterstock)

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), por sua vez, se manifestaram contra a mudança e já acionaram a Justiça e o Ministério Público Federal para questionar a nova política da Meta. “É inadmissível que a Meta permita a propagação de discursos de ódio em suas plataformas“, declarou Duda Salabert em suas redes sociais.

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A decisão da big tech também reacendeu o debate sobre a responsabilidade das plataformas digitais na moderação de conteúdo. O Supremo Tribunal Federal (STF) está analisando a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que isenta as plataformas de responsabilidade por conteúdo publicado por terceiros. Ministros do STF já se manifestaram a favor de responsabilizar as plataformas pela moderação de conteúdo, o que poderia mudar o cenário atual.

Gabriel Sérvio é formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase e faz parte da redação do Olhar Digital desde 2020.