Meta: funcionários que checavam informações não souberam do fim do programa

Outros colaboradores, com mais de dez anos de trabalho, receberam a informação com menos de uma hora do anúncio oficial
Rodrigo Mozelli09/01/2025 18h18
Smartphone com logo da Meta; ao fundo, desfocado, placa azul com o escrito
Zuckerberg mudou formas de verificação de informações nos EUA (Imagem: DANIEL CONSTANTE/Shutterstock)
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Na terça-feira (7), a Meta anunciou o fim do programa de checagem de informações em suas plataformas, que será substituído por um sistema semelhante ao do X, no qual os próprios usuários farão essa função. As checagens eram realizadas por funcionários terceirizados em várias partes do mundo. Mas nenhum deles soube que deixariam de prestar serviço à empresa de Mark Zuckerberg.

Um deles é Maarten Schenk, da Lead Stories, uma das empresas que prestavam serviços para a Meta. “Não fomos avisados com antecedência, foi simplesmente: ‘bom, está acabando'”, afirmou à Forbes. O rapaz contou ainda que ficou sabendo da notícia por meio do comunicado à imprensa divulgado pela big tech.

Celular com logomarca da Meta na tela colocado em cima de teclado de notebook
Funcionários não sabiam do fim do programa (Imagem: miss.cabul/Shutterstock)

Outros colaboradores, com mais de dez anos de trabalho, receberam a informação com menos de uma hora do anúncio oficial. Essas pessoas, que viam atrocidades todos os dias e precisavam passar por tratamentos psicológicos para diminuir o trauma, foram pegas de surpresa, idem as empresas que tinham acabado de estender contratos com a companhia para este fim.

Meta encerrou contratos antecipadamente

  • Segundo pessoas envolvidas nas negociações, contratos com organizações de notícias dos EUA, como USA Today, Reuters Fact Check, AFP e Politifact, serão encerrados em março;
  • Por sua vez, contratos com redações internacionais e organizações de caridade que fazem checagens em países, como Austrália e Zâmbia, devem seguir ativos até o fim deste ano;
  • O fim desses contratos deverá ter impacto negativo e significativo em redações e organizações sem fins lucrativos que precisavam do programa da Meta para obterem receita;
  • Segundo a empresa de Mark Zuckerberg, foram gastos US$ 100 milhões (R$ 608,9 milhões, na conversão direta) no programa desde 2016, tendo sido estendido para 115 países.

Leia mais:

Segundo Joel Kaplan, novo chefe de políticas globais da Meta, disse que algumas das políticas de moderação de conteúdo foram criadas “em resposta à pressão social e política para moderar conteúdo” e que esses “sistemas cada vez mais complexos” haviam “ido longe demais”, classificando-os como “censura”.

Essas alegações irritaram muitos dos verificadores que trabalhavam para a companhia que falaram com a Forbes. “O jornalismo de checagem de fatos nunca censurou ou removeu publicações: adicionou informações e contexto a alegações controversas e desmentiu conteúdos falsos”, disse Angie Holan, diretora da International Fact-Checking Network.

Redes sociais da Meta
Novo chefe de políticas globais da Meta, disse que algumas das políticas de moderação de conteúdo foram criadas “em resposta à pressão social e política para moderar conteúdo” (Imagem: Sergei Elagin/Shutterstock)

Efetivamente, as regras do Facebook indicam que apenas a companhia pode moderar e remover postagens. “Nós não removemos, nem poderíamos remover conteúdos. Qualquer decisão nesse sentido era da empresa“, contou Lori Robertson, do Factcheck.org, outro verificador de fatos terceirizado pela Meta nos EUA.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.