MicroRNA: o que é, sua função e como essa sequência de RNA pode ajudar a tratar doenças

Descubra o que é microRNA, sua função na regulação genética e como essa molécula pode impactar avanços no tratamento de doenças como câncer e diabetes
Por João Velozo, editado por Layse Ventura 10/01/2025 08h20
Genetica-1920x1080.png
Imagem: Billion Photos/Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Se você prestou atenção nas aulas de ciência na escola, nomes como DNA e RNA não lhe são estranhos, mas novos avanços e descobertas da genética tem desvendado um tipo específico de RNA o microRNA ou miRNA pode representar grandes avanços na medicina e na maneira como entendemos o funcionamento dos organismos vivos.

O mundo da genética é fascinante. Dentro de cada célula de tudo o que é vivo, duas substâncias trabalham juntas de maneira extraordinária para preservar e executar a receita da vida: o DNA e o RNA.

Ilustração de DNA
Imagem: quantic69 / iStock

O DNA, conhecido como o “manual de instruções” da vida, guarda todas as informações necessárias para a criação e manutenção de um organismo.

Por outro lado, o RNA atua como um mediador, traduzindo essas instruções e guiando o processo de fabricação de proteínas, os ingredientes essenciais que fazem a célula funcionar.

Mas dentro desse sistema harmonioso, existe uma classe especial de moléculas de RNA que desempenha um papel ainda mais sofisticado: o microRNA (miRNA).

O que é microRNA?

O microRNA é uma sequência curta de RNA, geralmente composta por cerca de 20 a 25 nucleotídeos, que não codifica proteínas, mas exerce um controle direto sobre a tradução de proteínas a partir do RNA mensageiro (mRNA).

Cientista segurando frasco com líquido dentro e ilustração de DNA nele
(Imagem: Cryptographer/Shutterstock)

Ele funciona como um regulador da expressão gênica, ou seja, ajuda a determinar quais genes serão ativados ou silenciados. Os miRNAs são produzidos dentro das células a partir de transcrições primárias de RNA, que passam por um processo de amadurecimento até se tornarem funcionais.

Essas moléculas estão presentes em praticamente todos os organismos multicelulares e são altamente conservadas, indicando sua importância evolutiva. Estudos recentes mostraram que alterações na expressão de microRNAs estão relacionadas a diversas condições de saúde, tornando-os alvos de grande interesse para novas terapias e diagnósticos médicos.

A importância dos miRNAs foi reconhecida em 2024, quando uma dupla de cientistas recebeu o Prêmio Nobel de Medicina por suas descobertas no campo.

Qual a função do microRNA?

O principal papel do microRNA é regular a expressão gênica, interferindo no processo de tradução do mRNA em proteínas. Isso ocorre porque o miRNA se liga de forma específica a moléculas de mRNA, promovendo sua degradação ou inibindo sua tradução. Dessa forma, ele atua como um “interruptor” biológico, controlando os níveis de proteínas nas células.

Ilustração 3D de tradução gênica
Ilustração 3D detalhada de um ribossomo, a estrutura celular responsável pela tradução do mRNA em proteínas, destacando o papel essencial desse processo na construção e manutenção das funções biológicas. Imagem: Christoph Burgstedt / iStock

Essa regulação tem impacto direto em diversas funções celulares, como crescimento, diferenciação, morte celular programada (apoptose) e resposta ao estresse.

Além disso, os miRNAs desempenham um papel crucial no desenvolvimento e na manutenção de tecidos, bem como na resposta imune.

Por outro lado, a desregulação dos microRNAs está associada a várias doenças. Por exemplo, em certos tipos de câncer, a superexpressão ou a inibição de miRNAs específicos pode promover o crescimento tumoral ou impedir a morte de células cancerígenas.

Os métodos por trás da descoberta dos microRNAs

A descoberta dos microRNAs foi resultado de um estudo pioneiro que combinou técnicas de sequenciamento de RNA com modelos experimentais de organismos simples, como o Caenorhabditis elegans. Os cientistas identificaram que pequenas moléculas de RNA estavam envolvidas em processos regulatórios essenciais.

Imagem ampliada de um Caenorhabditis elegans, um verme microscópico com corpo alongado e transparente, iluminado por luz azul fluorescente que destaca sua estrutura interna. O organismo apresenta uma forma curvada, com uma superfície lisa e detalhes celulares visíveis em todo o corpo. Utilizado em estudos genéticos e biológicos.
Caenorhabditis elegans, um organismo modelo amplamente utilizado em estudos genéticos, incluindo a descoberta de microRNAs. Imagem: National Human Genome Research Institute, domínio público, via Wikimedia Commons.

O estudo analisou a interação entre os miRNAs e os mRNAs, demonstrando como essas moléculas poderiam silenciar a expressão gênica de maneira específica. Essa abordagem foi documentada em detalhes em publicações científicas, incluindo um artigo recente no The Lancet, que revisita os métodos e os impactos dessa descoberta na biologia molecular moderna.

João Velozo
Colaboração para o Olhar Digital

João Velozo é um jornalista e fotógrafo freelancer com base em Pernambuco, Brasil.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.