Crânio que poderia ser de irmã de Cleópatra tem identidade revelada

Pesquisa resolveu um mistério e iniciou outro: onde estaria Arsinoë IV?
Vitoria Lopes Gomez12/01/2025 12h19
crânio que acreditava-se pertencer à irmã de cleópatra
(Imagem: derknopfdruecker/Universidade de Viena)
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Em 1929, um arqueólogo austríaco chamado Josef Keil descobriu um crânio que, posteriormente, acreditou-se pertencer à Arsinoë IV, rainha irmã de Cleópatra. Um pequisa publicada esta semana na revista Scientific Reports revelou algo muito diferente: a caveira pertencia a um menino.

O trabalho desvenda um mistério da ciência há anos, mas levanta outra dúvida: onde estaria Arsinoë IV?

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Depois de décadas, Universidade de Viena revisitou o mistério sobre o crânio (Imagem: Scientific Reports/Reprodução)

Pesquisadores acreditavam que o crânio era de irmã de Cleópatra

Um esqueleto completo foi descoberto por Keil em 1929, em um sarcófago cheio de água e em ruínas na antiga cidade de Éfeso, que fica na atual Turquia. Antes que o túmulo fosse selado, o arqueólogo levou o crânio junto consigo de volta à Alemanha para análise (sim, na mala). Junto de sua equipe, ele chegou a conclusão de que o túmulo pertencia a uma “pessoa muito distinta” e que os ossos eram de uma mulher de 20 anos.

A pesquisa completa com os resultados e fotos do crânio foi publicada apenas em 1953. O trabalho ainda afirmava que a ossada estava “Heroon”, uma espécie de santuário dedicado a uma figura heroica. Nesse caso, a mulher seria um “tipo refinado e especializado” de pessoa, provavelmente de origem aristocrática.

As pesquisas não pararam por aí. Em 1982, outra escavação no mesmo local reencontrou o esqueleto (sem o crânio), mas dessa vez em uma câmera funerária diferente do sarcófago.

Foi só na década de 1990 que cientistas começaram a especular sobre a identidade dos restos mortais. Eles chegaram a conclusão de que era Arsinoë IV, rainha do Chipre e irmã de Cleópatra. Os pesquisadores tiveram alguns motivos para isso:

  • O local onde o crânio e o esqueleto foram encontrados, conhecido como “Octógono”, se assemelhava arquitetonicamente ao Farol de Alexandria, do Egito;
  • Outro motivo é que Arsinoë IV foi assassinada em Éfeso por volta de 41 a.C., a mando de Marco Antônio, amante de Cleópatra. Ou seja, ela morreu na cidade onde a descoberta foi feita;
  • O terceiro motivo é sua origem aristocrática, que condiz com o santuário onde o esqueleto foi encontrado.
Pesquisadores da Universidade de Viena aplicaram técnicas modernas para estudar a descoberta (Imagem: Gerhard Weber/Universidade de Viena/Reprodução)

Novo estudo revisitou o mistério sobre o crânio

A teoria sobre o crânio pertencer à irmã de Cleópatra foi difundida por muito anos, mas pode ter acabado de ser esclarecida. O Departamento de Antropologia Evolucionária da Universidade de Viena (com uma equipe de geneticistas, ortodontistas e arqueólogos) revisitou o mistério e estudou a ossada através de uma série de técnicas modernas:

  • Eles submeteram o crânio a uma tomografia computadorizada micro, uma técnica de imagem 3D que cria um modelo de objeto em detalhes a partir de raiox X;
  • Em seguida, a equipe coletou amostras do ouvido interno do crânio para investigar a idade e a genética do indivíduo;
  • Por último, os dados coletados foram submetidos à datação de carbono e indicaram que a peça data entre 36 e 205 a.C.

Até aí, poderia ser Arsinoë IV, que de fato morreu entre esse período. A pesquisa também confirmou que o crânio e o resto do esqueleto pertencem à mesma pessoa.

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Base do crânio indicou problemas de desenvolvimento no indivíduo (Imagem: Scientific Reports/Reprodução)

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Não é a irmã de Cleópatra

Ao invés de confirmar a identidade do crânio para a irmã de Cleópatra, a pesquisa encontrou algo inesperado: o crânio e o fêmur tinham a presença do cromossomo Y. Ou seja, tratava-se de um homem.

De acordo com o comunicado da equipe, a análise revelou que o indivíduo ainda era um menino, provavelmente na puberdade, hipótese confirmada pelas imagens das raízes dentárias e de que a base do crânio estava em desenvolvimento no momento da morte.

A pesquisa também revelou que o indivíduo provavelmente tinha algum problema patológico de desenvolvimento, responsável por deixar o crânio em um formato assimétrico incomum. O motivo por trás do distúrbio não está claro, mas pode ter sido por falta de vitamina D ou uma síndrome genética.

Mas a pergunta que não quer calar: onde está Arsinoë IV? Esse é um mistério que continuará sem resposta por ora. A razão para a semelhança entre o Octógono e o Farol de Alexandria também não ficou claro.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.