A evolução da vida na Terra é frequentemente mal interpretada como um processo linear em direção a organismos “mais elevados” ou “melhores“. Na verdade, a evolução não tem linha de chegada nem objetivo final. E um exemplo disso aparece num estudo recente. A pesquisa mostrou que samambaias frequentemente evoluem “para trás”.
Enquanto muitas plantas não retornam a formas mais simples após evoluírem estruturas reprodutivas como sementes e flores, as samambaias possuem flexibilidade única. É o que explica Jacob Suissa, coautor do estudo e professor-assistente na universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, em artigo publicado no The Conversation.
Samambaias desafiam noção de processo linear da evolução das espécies
A noção equivocada sobre evolução é exemplificada pela famosa ilustração The Road to Homo Sapiens, de Rudolph Zallinger – aquela que mostra a evolução do Homem a partir do macaco (veja clicando aqui). Essa ideia linear, conhecida como ortogênese ou “evolução progressiva“, também influenciou teorias paleontológicas e a compreensão da evolução de plantas.

Contudo, a evolução é guiada por seleção natural em contextos específicos. E, às vezes, por derivação genética sem direção definida. É aí que entram as samambaias. Ao contrário do modelo unidirecional observado em outras plantas, as samambaias frequentemente revertem a especialização reprodutiva.
A evolução das plantas vasculares demonstra a especialização gradual de estruturas – desde os telomos, que combinavam fotossíntese e reprodução, até flores altamente especializadas. Essa progressão é vista como um padrão universal em plantas. Mas as samambaias desafiam essa ideia.
A flexibilidade única das samambaias se manifesta quando elas alternam entre monomorfismo (uma única folha desempenha múltiplas funções) e dimorfismo (folhas distintas desempenham funções separadas).
No caso das samambaias encadeadas (Blechnaceae), o estudo encontrou exemplos de plantas que evoluíram para o dimorfismo e depois reverteram para o monomorfismo. Essa reversibilidade sugere que a evolução reprodutiva das samambaias não segue o padrão de especialização irreversível visto em outras plantas.
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O que explica flexibilidade evolutiva das samambaias

A ausência de sementes e flores confere às samambaias maior flexibilidade evolutiva. Como estruturas (esporos, por exemplo) podem ser reorganizadas em suas folhas, dá para fazer ajustes reprodutivos que seriam impossíveis em plantas com sementes.
Os achados sugerem que nem toda especialização reprodutiva nas plantas é irreversível. Em vez disso, pode depender de quantas camadas de especialização as plantas adquiriram ao longo do tempo.
Trecho do artigo escrito por Jacob Suissa e publicado no The Conversation
Com as rápidas mudanças ambientais atuais, compreender quais organismos têm maior capacidade adaptativa é essencial. Espécies que evoluíram de maneira irreversível podem enfrentar dificuldades para lidar com novas pressões, enquanto linhagens como as samambaias retêm maior flexibilidade.
Em última análise, o estudo reforça a complexidade da biologia evolutiva, mostrando que não existe direção única nem correta na evolução. “Os caminhos evolutivos são mais como teias emaranhadas, com alguns galhos se dividindo, outros se convergindo e alguns até se voltando sobre si mesmos”, finaliza Suissa.