Capacete antigo pode reescrever a história dos anglo-saxões

Combinação de elementos anglo-saxões e bizantinos no capacete evidenciam a interação entre as duas culturas
Gabriel Sérvio14/01/2025 17h41
O capacete Sutton Hoo, um capacete anglo-saxão decorado encontrado durante uma escavação de 1939 no navio funerário Sutton Hoo. Em exposição atrás de um vidro.
(Imagem: EWY Media / Shutterstock)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Um novo estudo sugere que guerreiros anglo-saxões podem ter lutado como mercenários para o Império Bizantino no século VI, e o famoso capacete de Sutton Hoo é a chave para desvendar essa história.

Essa é a tese defendida pela historiadora medieval Helen Gittos, da Universidade de Oxford, em um estudo publicado no periódico The English Historical Review. A combinação de elementos anglo-saxões e bizantinos no capacete evidenciam a interação entre essas duas culturas.

O icônico capacete do enterro naval de Sutton Hoo, na Inglaterra, pode ser uma evidência de que guerreiros anglo-saxões lutaram ao lado dos bizantinos. (Imagem: Shutterstock)

A pesquisa de Gittos aponta para o capacete e a cota de malha encontrados em Sutton Hoo como cópias de armaduras bizantinas, sugerindo que o homem enterrado no navio — possivelmente o rei anglo-saxão Raedwald — trouxe a armadura original após lutar no Oriente. Posteriormente, ele teria encomendado a artesãos ingleses uma réplica ornamentada para seu enterro.  

Evidências além de Sutton Hoo

A descoberta do “Príncipe Prittlewell” em 2003, um nobre anglo-saxão enterrado em Essex, tamb~em lançou luz sobre as origens de diversos artefatos de Sutton Hoo e de outros sítios arqueológicos. O túmulo de Prittlewell, intacto e com datação precisa entre 580 e 605 d.C., continha um jarro de bronze, colheres de prata e tigelas de metal que parecem ter sido feitas no Mediterrâneo oriental.

Gittos argumenta que estes objetos, incluindo uma tigela de bronze com origem egípcia, foram adquiridos durante campanhas militares no Oriente.  

Túmulo, que data de cerca de 580 d.C., é considerado o mais antigo enterro principesco anglo-saxão já encontrado na Inglaterra. Variedade de artefatos, incluindo objetos do Mediterrâneo oriental, reforça a hipótese de que guerreiros anglo-saxões viajavam para o Oriente e retornavam com itens adquiridos durante suas aventuras militares. (Créditos da imagem: Museum of London Archaeology)

Além disso, o estudo de Gittos identificou diversos artefatos em túmulos ingleses antigos que podem ter sido trazidos de volta por guerreiros anglo-saxões que lutaram pelos bizantinos. A presença desses artefatos em túmulos anglo-saxões levanta a questão: como esses guerreiros os adquiriram? Uma possibilidade é que eles serviram como mercenários no exército bizantino.  

Mercenários anglo-Saxões a serviço do Império Bizantino

  • Na década de 570, o Império Bizantino enfrentava a ameaça dos persas sassânidas em suas fronteiras orientais;
  • Para fortalecer suas tropas, os líderes bizantinos recrutaram mercenários de diversas regiões, incluindo guerreiros “de ambos os lados dos Alpes”;
  • Historiadores bizantinos da época relatam que o pagamento generoso em ouro era um dos principais atrativos para os recrutas;  
  • Além da recompensa financeira, a oportunidade de participar de aventuras e demonstrar coragem em batalha também motivava os anglo-saxões a se alistar no exército bizantino;
  • Os guerreiros estrangeiros recebiam armadura e dinheiro para adquirir armas e equipamentos.

Leia mais

A pesquisa abre um novo capítulo na história anglo-saxônica, revelando uma conexão inesperada com o Império Bizantino. As evidências arqueológicas, incluindo o famoso capacete de Sutton Hoo, o túmulo do Príncipe Prittlewell e outros artefatos encontrados em sítios anglo-saxões, apontam para uma forte conexão entre guerreiros anglo-saxões e o Império Bizantino no século VI.

Essa descoberta desafia a visão tradicional da Inglaterra anglo-saxônica como uma sociedade isolada. Pesquisas futuras, com análise de outros artefatos e estudo de fontes históricas, poderão aprofundar o conhecimento sobre a participação de anglo-saxões em conflitos fora da Grã-Bretanha e lançar luz sobre as motivações, experiências e o impacto desses guerreiros na história anglo-saxônica e bizantina.

Gabriel Sérvio é formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase e faz parte da redação do Olhar Digital desde 2020.