O buraco negro supermassivo Sagitário A*, localizado no centro da Via Láctea, gerou um importante avanço na astrofísica com a detecção de seu primeira erupção infravermelha. Esse fenômeno, raramente observado em detalhes, oferece uma nova perspectiva sobre os processos que ocorrem ao redor do buraco negro. A descoberta preenche uma lacuna significativa nas observações anteriores, que até então não haviam abordado adequadamente esse tipo de radiação.
Embora Sagitário A* seja conhecido por sua relativa calma em comparação com outros buracos negros supermassivos, ele ainda apresenta erupções que fornecem pistas cruciais sobre o comportamento de objetos tão extremos.
Ao longo das últimas duas décadas, pesquisadores estudaram esses eventos em diversas faixas de luz, mas o infravermelho médio (MIR) ainda estava fora de alcance. Agora, com a ajuda de tecnologias avançadas, como o Telescópio Espacial James Webb (JWST), cientistas conseguiram capturar esses sinais e fechar uma importante lacuna nos modelos existentes sobre buracos negros.
O estudo foi apresentado na 245ª reunião da American Astronomical Society e será publicado na The Astrophysical Journal Letters.

Observações mais completas da erupção infravermelha do Sagitário A*
- Usando diferentes telescópios, os astrônomos foram capazes de construir uma imagem mais abrangente das erupções de Sgr A*.
- O telescópio JWST, que observa no infravermelho médio (MIR), e o Submillimeter Array (SMA), que captura radiação submilimétrica, forneceram dados complementares.
- A erupção foi detectada primeiramente no infravermelho médio e, cerca de 10 minutos depois, foi vista também na faixa submilimétrica, confirmando o modelo de radiação sincronotron.
- O Dr. Sebastiano D. von Fellenberg, líder da pesquisa no Instituto Max Planck para Radioastronomia, disse ao IFLScience que “nossa pesquisa indica que pode haver uma conexão entre a variabilidade observada em milímetros e a emissão de erupções observada no MIR.”
- Já o Dr. Joseph Michail, outro autor principal do estudo, explicou que “a evolução rápida da erupção de Sgr A* ocorre em questão de horas, e nem todas essas mudanças podem ser vistas em todos os comprimentos de onda.”
- Ele também destacou que a observação no infravermelho médio preenche uma lacuna que existia há mais de 20 anos, especialmente em relação à conexão entre os dados em rádio e infravermelho próximo.
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Implicações e futuros estudos
Com a descoberta, os pesquisadores sugerem que a abordagem de múltiplos comprimentos de onda deve ser mantida e expandida, tanto para estudar Sgr A* quanto outros buracos negros supermassivos, como o M87*. Ambos são os únicos buracos negros supermassivos que têm sido observados diretamente pelo Event Horizon Telescope.
Embora a emissão no infravermelho médio tenha sido atribuída à radiação sincronotron de elétrons resfriados, ainda existem muitas questões a serem investigadas sobre os processos de reconexão magnética e a turbulência no disco de acreção de Sgr A*.
“O que mais Sgr A* pode estar ocultando que o infravermelho médio pode revelar? Estamos apenas começando a acessar os segredos armazenados na região deste buraco negro”, conclui Michail.