Pequenas conchas mostram a ‘corrida armamentista’ mais antiga conhecida

Fosseis de conchas de meio bilhão de anos atrás contam para os pesquisadores a corrida armamentista mais antiga de que temos conhecimento
Por André Milhomem Bruno da Silveira, editado por Bruno Capozzi 16/01/2025 07h10
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Imagem: Divulgação/Bicknell et al/Current Biology
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Há mais de 500 milhões de anos, predadores misteriosos furaram as conchas de outros animais. Algumas dessas conchas se fossilizaram e agora nos contam a história da primeira batalha conhecida entre predador e presa, o que influenciou na evolução de ambas as espécies.

“Esse registro evolutivo extremamente importante demonstra, pela primeira vez, que a predação desempenhou um papel fundamental na proliferação dos primeiros ecossistemas animais”, explica o paleontólogo Russell Bicknell do Museu Americano de História Natural.

Essas conchas pertencem a um parente antigo da concha de lâmpada, ou Lapworthella fasciculata, encontrada na região do Monte Flinders, no sul da Austrália. Elas viveram e morreram em meio a uma dos primeiros “booms” da biodiversidade, a Explosão Cambriana.

Dedos segurando um exemplar de concha de lâmpada
Exemplar de concha de lâmpada (Imagem: P00NG PEED/Shutterstock)

Essa diversificação da vida tão longínqua fascina os pesquisadores. E um dos mecanismos mais conhecidos para guiar a evolução é a batalha entre predadores e presas, o que costuma virar uma “corrida armamentista”.

Mas como é essa corrida?

Um exemplo, um fungo cria um antibiótico contra bactérias que elimina a grande maioria dos indivíduos daquela espécie, fazendo com que os poucos que sobrevivem se reproduzam e virem maioria, inutilizando aquele antibiótico. O mesmo ocorre com as conchas.

O fato de as perfurações terem ocorrido aproximadamente nos mesmos locais em todas as mais de 200 conchas encontradas pelos cientistas, sugere que esses buracos foram resultados de ações predatórias.

E ao mapear as conchas de acordo com suas idades, Bicknell e sua equipe puderam ver que elas ficaram mais grossas após uma série de perfurações, reduzindo a frequência de conchas com esses buracos.

Mas, com o tempo, o predador reforçou sua arma perfurante, resultando em um aumento das conchas perfuradas. Em seguida, a espessura das conchas aumentaram e a frequência de conchas esburacadas diminuiu novamente.

Esse ciclo, em que a presa reforça sua defesa e o predador reforça suas armas, ilustra uma corrida armamentista evolutiva que – sendo esse o exemplo mais antigo que se conhece hoje, datado de 517 milhões de anos atrás.

A relação predador-presa para a evolução

Raposa segurando um pequeno animal em sua boca após sua caça
A relação predador-presa pode ser importantíssima para o desenvolvimento das espécies na evolução. (Imagem: Zdenek Machacek/Shutterstock)

“As interações predador-presa são frequentemente apontadas como um grande impulsionador da explosão Cambriana, especialmente com relação ao rápido aumento na diversidade e abundância de organismos biomineralizantes nessa época”, diz Bicknell. “No entanto, tem havido uma escassez de evidências empíricas mostrando que a presa respondeu diretamente à predação, e vice-versa”.

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As conchas de L. fasciculata são exemplos de animais antigos que interagem entre si e influenciam a evolução de outros animais.

Nascido em Goiânia, André Milhomem se mudou para São Paulo para ingressar na faculdade Cásper Líbero onde, até hoje, cursa jornalismo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.