Relógio atômico pode mudar a nossa definição de segundo

Dispositivo melhora precisão na medição do tempo, mas análise dos resultados ainda é um desafio
Vitoria Lopes Gomez16/01/2025 18h23
relógio
(Imagem gerada artificialmente/via DALL-E/Olhar Digital)
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A unidade fundamental do tempo é o segundo. No entanto, o relógio tradicional, aquele que conhecemos e usamos no dia a dia, não é exatamente preciso. Esse é o objetivo do relógio atômico: uma contagem do tempo tão precisa que é capaz até de mudar a noção de segundo que estamos acostumados.

Relógios atômicos não são uma novidade. O desafio principal é medir o desempenho desses dispositivos na hora de redefinir a definição de segundo. Afinal, como saberemos qual está certo?

Ilustração de rabbit hole com elementos de relógio de ponteiro
Relógio que conhecemos não é tão preciso quanto imaginamos (Imagem: New Africa/Shutterstock)

Como funciona a medição do segundo e o relógio atômico

Vamos dar um passo atrás e entender dois pontos: o que é um segundo e o que é (e para que serve) o relógio atômico.

A unidade fundamental para a medição do tempo é o segundo. Desde 1967, a definição dessa unidade se baseia na radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos dos átomos de césio 133 no estado fundamental, em repouso na temperatura de 0 Kelvin. Nesse caso, um segundo é 9 192 631 770 períodos da radiação.

Essa é a definição de segundo na teoria. No entanto, os relógios tradicionais não são completamente precisos na passagem do tempo. É aí que entra um relógio atômico. Trata-se de um dispositivo que realiza a contagem de tempo a partir da transição de energia dos elétrons de certos elementos químicos (como o hidrogênio, por exemplo). O resultado é uma medição com precisão absurda.

Há anos, pesquisadores vêm melhorando o conceito e a prática dos relógios atômicos, para torná-los cada vez mais exatos. Para nós, essa medição pode não fazer tanta diferença, mas a precisão é bem-vinda nas áreas de navegação por satélite (como posicionamento do GPS), comunicações de sistemas e infraestrutura de internet (para a sincronização de dados, por exemplo), aplicações em defesa e segurança, e nos campos da física e da química.

O Olhar Digital explicou mais sobre isso aqui.

Diferentes relógios atômicos estão em desenvolvimento… a partir difícil é avaliar o desempenho entre eles (Imagem: Bruce Rolff – Shutterstock)

Relógio atômico supera desafio importante

De acordo com o IFLScience, pesquisadores já provaram que é possível projetar relógios 1.000 vezes mais precisos do que a definição original de segundo.

Agora, o desafio é medir o desempenho desses diferentes dispositivos para entender os resultados. Por enquanto, para que isso seja possível e comecemos a repensar a noção de segundo, ele precisa atingir uma frequência de 5×10 -18. O difícil é chegar lá.

É aí que entra a novidade: uma pesquisa publicada no periódico Physical Review Letters detalhou um relógio atômico com design multi-íon capaz de alcançar essa frequência. Em entrevista ao site, a professora Tanja Mehlstäubler revelou que ela e sua equipe conseguiram chegar ao número 5×10 -18. Para testar o feito, eles mediram a taxa de frequência de um relógio iônico (o nosso relógio clássico) e compararam com o desempenho do relógio atômico.

Em palavras mais simples, o relógio atômico conseguiu atingir a marca necessária para possivelmente redefinir a noção de segundo. Possivelmente por um motivo: a ciência estabelece que mais pessoas precisam chegar ao mesmo resultado. Afinal, ninguém faz grandes descobertas científicas sozinho (ou que não podem ser replicadas).

Redefinição de segundo para uma medida ainda mais precisa é uma das metas da ciência (Imagem: pixelparticle/Shutterstock.com)

Leia mais:

Qual o próximo passo?

  • O dispositivo de Mehlstäubler foi recordista, mas ela acredita no potencial de mais pessoas chegarem aos mesmos resultados;
  • A professora não deixou de destacar o caráter inédito da pesquisa, que pode ajudar a reduzir a incerteza em relação à precisão de qualquer relógio atômico;
  • Ela defende que é possível aumentar ainda mais a precisão da medição. Por enquanto, só há um desafio: chegar lá.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.