A interferência estadunidense na política europeia, há muito associada a operações veladas durante a Guerra Fria, assumiu nova e alarmante forma, destaca o The New York Times. Desta vez, não se trata de movimentos encobertos, mas de ações abertamente promovidas por figuras, como o bilionário Elon Musk e o movimento Make America Great Again (MAGA), liderado pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
Estas intervenções objetivam influenciar, diretamente, sistemas políticos europeus, desestabilizar governos e fortalecer partidos de extrema-direita.

Nova dinâmica da interferência
- Durante décadas, a Europa se concentrou em combater operações de influência de adversários, como Rússia e China;
- Hoje, enfrenta ameaça diferente: ações explícitas, como as de Musk, que utiliza sua plataforma social X para amplificar narrativas de extrema-direita e atacar líderes progressistas;
- Um exemplo recente é o apoio de Musk ao partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, rotineiramente associado a grupos neonazistas;
- Musk deu visibilidade ao partido ao retransmitir suas mensagens e promover sua candidata à chancelaria, Alice Weidel, em transmissão ao vivo de 75 minutos;
- Musk também usou o X para reacender escândalos antigos do Reino Unido e atacar Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista;
- Além disso, há rumores de que ele planeja doação de US$ 100 milhões (R$ 603,71 milhões, na conversão direta) ao partido de extrema-direita Reform Party, liderado por Nigel Farage, figura-chave do Brexit.
Essas ações coincidem com momento de instabilidade política na Europa. Governos tradicionais, como os de Alemanha e França, enfrentam colapsos internos, enquanto partidos de extrema-direita ganham força em vários países.
Além disso, a estratégia de Trump de “America First” (“América Primeiro”, em tradução literal) sugere que ele usará o poder econômico e militar dos EUA para impor suas prioridades, independentemente dos governos europeus no poder.
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Elon Musk: um aliado estratégico
Musk, além de financiar a reeleição de Trump, utiliza sua influência para promover agendas de extrema-direita na Europa. Uma de suas empresas, a SpaceX, também negocia com o governo italiano para fornecer comunicações militares seguras por meio da rede de satélites da Starlink, reforçando laços com líderes, como a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
Meloni, apesar de alinhada a Trump e Musk, enfrenta pressão para cumprir metas rigorosas, como a deportação de imigrantes. Essa relação revela uma complexa dinâmica de interesses mútuos entre a extrema-direita europeia e o movimento MAGA.

Desafios para a Europa
A Europa parece despreparada para lidar com essa nova forma de interferência, analisa o Times. Friedrich Merz, líder do partido conservador alemão CDU, destacou que as ações de Musk e Trump representam ameaça sem precedentes às democracias ocidentais.
A dependência da Europa em relação aos EUA, seja em termos de segurança ou de tecnologia, agrava o problema. Plataformas, como o X, e empresas, como a SpaceX, consolidam a influência estadunidense sobre os sistemas políticos e econômicos europeus, pontua o periódico dos EUA.
O que está em jogo?
Especialistas alertam que essas interferências exploram divisões internas, exacerbando descontentamentos populares com temas, como imigração, economia e confiança nas instituições. Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, afirmou ao Times que a maior ameaça para as democracias europeias não vem de fora, mas de dentro, devido à incapacidade dos líderes de abordar questões que preocupam os eleitores.
Com Trump prestes a retomar o poder e Musk desempenhando papel central (estando, inclusive, entre os escolhidos para compor o novo governo), a Europa se encontra em momento crítico, precisando reforçar seus sistemas políticos e enfrentar a influência estrangeira para proteger suas democracias.