Tecnologias recentes têm focado em reduzir a atividade humana em tarefas simples, como dirigir (com os carros autônomos) e realizar trabalhos físicos repetitivos (com os robôs humanoides). No entanto, para o pesquisador e professor Paul Brandt-Rauf, o futuro do trabalho não está na redução das atividades, mas em como podemos melhorar nosso desempenho ao realizá-las. E a resposta está no monitoramento cerebral.
Em artigo no site The Conversation, Brandt-Rauf explicou como a área da neuroergonomia está usando a tecnologia para melhorar a performance humana. Nem tudo é positivo: ela também destaca os riscos desse campo de estudo.

O que é a neuroergonomia?
O pesquisador explicou que a neuroergonommia é o estudo do comportamento humano enquanto os indivíduos realizam suas atividades diárias (incluindo o trabalho).
O objetivo é usar o monitoramento cerebral para entender como o cérebro da pessoa funciona diante de cada situação, de forma a melhorar o desempenho. Por exemplo, é possível usar essa técnica para avaliar o aprendizado. Ou para avaliar quando funcionários estão cansados, avisando quando eles precisam descansar.
Até agora, as pesquisas na área de neuroergonomia aconteciam em ambientes controlados, normalmente em laboratórios, usando procedimentos invasivos, como implantes. Isso limitava sua aplicação e também tinha riscos para os indivíduos. Porém, o setor tem avançado e, segundo o professor, tem uma expectativa de crescimento de US$ 21 bilhões até o ano que vem, impulsionado principalmente pelo monitoramento dos funcionários por parte das indústrias.

Como funciona o monitoramento cerebral?
De acordo com Paul Brandt-Rauf, o monitoramento cerebral pode ser usado para melhorar o bem-estar, a saúde e a produtividade dos trabalhadores. Ele descreveu as formas mais comuns de fazê-lo usando dispositivos vestíveis, ao invés de implantes:
- A primeira técnica de neuroergonomia é a eletroencefalografia (EEG), que mede a atividade elétrica do cérebro usando eletrodos conectados ao couro cabeludo;
- A segunda é a espectroscopia de infravermelho, que mede as mudanças na atividade metabólica através de luzes infravermelhas que monitoram o fluxo sanguíneo.
Os dois métodos servem para o mesmo propósito: monitorar a atividade cerebral e entender a resposta dos indivíduos a diferentes situações. Segundo o artigo, isso pode ser fundamental em atividades de risco ou que demandam atenção, como pessoas que controlam o fluxo dos aviões ou policiais.

Leia mais:
- Adesivo pode monitorar fluxo sanguíneo no cérebro
- O que esperar da Neuralink em 2025: avanços e desafios dos implantes cerebrais
- Por que chip cerebral da Neuralink preocupa cientistas?
Monitoramento cerebral tem dilemas éticos
O pesquisador admite que o monitoramento cerebral enfrenta dilemas éticos. Por um lado, ele defende que a tecnologia pode motivar ganhos econômicos e uma sociedade melhor, já que poderíamos melhorar nosso desempenho em praticamente tudo. Por outro lado, pode criar uma sociedade mais desigual, caso nem todos tenham acesso aos métodos.
Outro dilema é a proteção de dados. De acordo com Brandt-Rauf, dados de atividade cerebral não são considerados dados clínicos e, por enquanto, não têm uma legislação que os proteja.
Para o pesquisador, esses dilemas, bem como os benefícios do monitoramento cerebral, ainda devem passar por discussões e evoluções antes que possam criar uma sociedade melhor.