A tectônica de placas é um fenômeno fundamental para a formação de cadeias de montanhas, terremotos e o movimento de continentes, além de ter criado condições ideais para a vida na Terra. No entanto, nenhum outro corpo celeste no sistema solar demonstra tectônica de placas atualmente. Mas o que torna a Terra diferente?
“Nós ainda não sabemos ao certo”, disse Bradford Foley, geodinamicista da Penn State, em entrevista ao Live Science. “Acho que isso ainda é considerado um dos grandes problemas não resolvidos da geofísica atualmente.”
A dinâmica da litosfera terrestre
- A litosfera terrestre — composta pela crosta e pelo manto superior rígido — é dividida em cerca de 15 placas que estão em constante movimento.
- Essas placas se deslocam, colidem e se afastam continuamente.
- Apesar de os cientistas não saberem exatamente como a litosfera foi fragmentada, certos aspectos da geologia da Terra sustentam o funcionamento desse mecanismo.
- Para que um planeta mantenha tectônica de placas, ele precisa ter um manto convectivo, explicou Foley.
- Nessas condições, o material frio e denso da superfície afunda de volta ao manto em zonas de subducção, enquanto novos materiais emergem onde as placas se afastam.
- Sem esse manto convectivo, não haveria energia suficiente para movimentar as placas.

O papel da densidade e da água líquida
A convecção, por si só, não garante a tectônica de placas. A litosfera precisa ser fina o suficiente para se fragmentar e densa o bastante para que as placas possam afundar no manto, segundo Geoffrey Collins, geólogo do Wheaton College, em Massachusetts. Interações entre limites de placas e água líquida também podem influenciar, afirmou Russell Pysklywec, geofísico da Universidade de Toronto.
“Quando hidratamos essas rochas e elas descem para o interior da Terra, isso serve para, por falta de uma explicação melhor, lubrificar um pouco mais as rochas”, explicou Pysklywec. “Pode ser que, em zonas de subducção, onde duas placas se encontram, e com nossos oceanos líquidos, estejamos adicionando esse lubrificante que ajuda a facilitar a tectônica de placas.”
Europa e outros exemplos no Sistema Solar
Fatores combinados podem explicar por que a Terra é o único planeta conhecido a apresentar tectônica de placas. Um estudo de 2022, liderado por Collins, apontou que a lua gelada de Júpiter, Europa, exibiu atividade semelhante no passado: partes de sua crosta de gelo foram quebradas em placas que se espalharam e colidiram. A água mais quente sob o gelo pode ter ajudado a movimentar essas placas, mas, como o gelo é menos denso que a água, as placas não afundaram no oceano como ocorre na Terra.

Contudo, o comportamento em placas de Europa é limitado a regiões específicas e não cobre toda a superfície da lua. “Em Europa, parece ser algo pontual, com um pedaço aqui, outro ali, e nada acontecendo entre eles”, destacou Collins.
Leia mais:
- Qual a diferença entre vulcão ativo, adormecido e extinto?
- Como as cavernas se formam? Veja o que a ciência explica sobre essas estruturas naturais
- Qual é o verdadeiro tamanho do Brasil? Entenda como nosso território é calculado
A configuração de tampa estagnada em Marte
Outros planetas, como Marte, possuem um manto convectivo, mas suas superfícies não são fragmentadas em placas. “Em vez de estar dividida em placas que se movem com o manto convectivo, há uma grande placa cobrindo todo o planeta, como uma tampa sobre o manto convectivo”, explicou Foley.
A ausência de outros planetas com tectônica de placas torna difícil compreender por completo o que leva um planeta a desenvolver esse fenômeno. “Se tínhamos centenas de planetas rochosos com condições variadas, poderíamos determinar empiricamente quais são os fatores-chave. Mas é difícil fazer isso com apenas um,” concluiu Foley.