Alimentação de nossos antepassados na pré-história pode não ser como você imagina!

Estudo sugere que alguns Australopitecos tinham alimentação diferente do que se imagina para os homens-das-cavernas
Por André Milhomem Bruno da Silveira, editado por Rodrigo Mozelli 21/01/2025 01h45, atualizada em 21/01/2025 01h51
Escultura de um homem-das-cavernas
Estudo fez análise diferente das tradicionais para chegar à conclusão (Imagem: AKKHARAT JARUSILAWONG/Shutterstock)
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Uma pesquisa sugere que, no começo do Período Paleolítico, a dieta de nossos ancestrais não era bem como pensávamos. Na verdade, ela vai na contramão do esteriótipo que se tem sobre os seres humanos daquela época, os famosos homens-das-cavernas.

Acredita-se que membros do gênero Australopitecos, um de nossos antepassados e conhecido pela famosa Lucy, tinham dieta completamente vegetariana.

A alimentação dos Australopitecos é muito debatida. A maior evidência de sua dieta era o formato de seus dentes, já que os dentes dos animais mudam conforme os alimentos que cada espécie come. Esse método ajuda a distinguir carnívoros de herbívoros, mas, quando se fala de onívoros, que tinham dietas tão plurais, ele não é o ideal.

Cavalo mostrando os dentes, típicos de herbívoro
Herbívoros costumam ter dentes achatados para cortar plantas, diferente dos carnívoros, que tem dentes pontiagudos para rasgar a carne (Imagem: OlegRi/Shutterstock)

O novo estudo, que versa sobre o esmalte de alguns fósseis de dentes, revelou que a proporção de isótopos de nitrogênio e carbono em um grupo de Australopitecos vai na contramão da imagem de comedores de carne crua e bestiais que está presente no imaginário comum. Os achados revelam que esses indivíduos tinham alimentação, principalmente, de plantas e insetos.

Nitrogênio-15 e sua importância no estudo

Segundo o IFLScience, a maioria do nitrogênio em nossos alimentos e ambientes é o isótopo nitrogênio-14, mas, em menor número, também há átomos de nitrogênio-15, sendo que, animais, particularmente os mamíferos, processam esses isótopos de maneira diferente, armazenando grande parte do nitrogênio-15 que ingerem.

Consequentemente, um carnívoro que se alimenta, ao longo da vida, de vários indivíduos que contém o nitrogênio-15 em seus corpos, acumula mais desse elemento do que um herbívoro, que tem dieta exclusivamente composta por vegetais.

Medir as proporções de nitrogênio-15 no colágeno de nossos ancestrais forneceu boa ideia da dieta deles, mas de apenas cerca de 300 mil anos atrás, já que o colágeno não sobrevive muito mais além desse intervalo de tempo.

Já o esmalte dentário dura muito mais e pode proteger pequenas quantidades de material orgânico preso nele. Máquinas que leem isótopos de maior sensibilidade, recentemente, deram, aos paleontólogos, a capacidade de identificar as proporções de nitrogênio nesses pequenos fragmentos.

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Como foi realizada a pesquisa que muda o “conceito” de dieta de nossos ancestrais

  • A pesquisa, liderada pela Dra. Tina Lüdecke, do Instituto Max Planck de Química, e publicada na revista Science, utilizou essa máquina em sete dentes de Australopitecos encontrados na Caverna Sterkfontein, na África do Sul;
  • O tempo e, até mesmo, as espécies desses indivíduos de Australopitecos, são incertos, mas acredita-se que eles datem do início do Pleistoceno, 3,3 milhões de anos atrás;
  • Os pesquisadores compararam esses resultados com outros materiais preservados de forma semelhante de outras cinco famílias de mamíferos, incluindo alguns cuja dieta é bem conhecida;
  • Em média, esses Australopitecos tinham proporções de nitrogênio-15 semelhantes às dos parentes de vacas de sua época. Tinham, também, muito menos do isótopo do que os carnívoros de seu período;
  • Além disso, os níveis eram tão baixos que sugerem que esses hominídeos comiam plantas com níveis particularmente baixos do isótopo, como leguminosas.

Crânio de um Australopithecus
Esmalte do dente desses Australopitecos guardam informações sobre sua dieta
(Imagem: Danny Ye/ Shutterstock)

Há muita variação entre as espécies do gênero Australopitecos, sendo ela maior que a maioria dos outros gêneros animais. Então, sua dieta pode ter variado muito conforme a época.

As amostras também revelaram porções de isótopos de carbono, o que sugere que os Australopitecos analisados tinham dieta composta, principalmente, de plantas predominantes em condições temperadas com bastante água e, às vezes, complementadas com plantas de climas mais secos.

Nascido em Goiânia, André Milhomem se mudou para São Paulo para ingressar na faculdade Cásper Líbero onde, até hoje, cursa jornalismo.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.