O que pode estar no gelo de 1,2 milhão de anos atrás encontrado na Antártida?

Após 200 dias de perfuração, pesquisadores do projeto “Beyond EPICA - Oldest Ice” conseguiram coletar cilindros gelo ancestrais capazes de contar a história do clima terrestre
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 21/01/2025 08h23
Cientistas encontram gelo de 1,2 milho de anos
(Imagem: ©PNRA/IPEV)
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Na base Little Dome C, na Antártida, um grupo de pesquisadores de dez países europeus diferentes conseguiu coletar amostras de gelo de 1,2 milhão de anos atrás. O marco é histórico e poder ajudar o grupo de cientistas a entender como o clima da Terra mudou no passar do tempo.

A incursão faz parte do projeto “Beyond EPICA – Oldest Ice”, financiado pela União Europeia. A equipe concluiu com sucesso uma perfuração decisiva, que atingiu a profundidade de 2.800 metros, onde o manto de gelo se encontra com a camada de rochas do continente.

Clinidros de gelo de 1,2 milhão de anos
Os cilindros remontam a história de 1,2 milhão de anos atrás. (Imagem: ©PNRA/IPEV)

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Foram 200 dias de operação, em que o grupo trabalhou a uma temperatura de -35°C. A base onde estavam fica numa altitude de 3,2 mil metros acima do nível do mar. 

“É um momento histórico para a ciência climática e ambiental. Este é o registro contínuo mais longo do nosso clima, que foi obtido a partir de um núcleo de gelo e pode revelar a interligação entre o ciclo do carbono e a temperatura do nosso planeta”, comenta Carlo Barbante, professor da Universidade Ca’ Foscari de Veneza e coordenador do Beyond EPICA.

O passado da Terra guardado no gelo ancestral

Os cientistas acreditam que as amostras de gelo têm dados importantes sobre a história climática do planeta Terra. Segundo o projeto, o material congelado pode revelar como era a temperatura atmosférica, além de trazer indícios de como era o ar com gases de efeito estufa há mais de 1 milhão de anos.

“A partir de análises preliminares registadas no Little Dome C, temos uma forte indicação de que os 2.480 metros contêm um registo climático que remonta a 1,2 milhões de anos num registo de alta resolução onde até 13.000 anos são comprimidos num metro de gelo”, relata Julien Westhoff, cientista-chefe na área, pós-doutorado na Universidade de Copenhague.

A equipe ainda estudou a camada mais profunda do manto de gelo. A 210 metros antes da parte rochosa, o conteúdo congelado está fortemente deformado, o que indicaria que o gelo pode ter se misturado ou sofrido um processo de recongelamento ainda desconhecido. 

Cilindros de gelo milenar
O projeto levou 200 dias até sua conclusão. (Imagem: ©PNRA/IPEV)

Ao analisar essa camada, os pesquisadores podem entender melhor a história da glaciação da Antártida. Além disso, a equipe estudará as rochas após o trecho congelado para desvendar quando a região esteve livre de gelo pela última vez.

Futuras pesquisas poderão trazer também o conhecimento sobre o período em que os ciclos glaciais se prolongaram. Ocorridos na transição do Pleistoceno Médio, era do planeta entre 1,25 milhão e 900 mil anos atrás, esses ciclos mudaram de intervalos de 41 mil anos para pausas de 100 mil anos.

Em resumo, o planeta começou a esfriar em um intervalo de tempo maior. Ainda não há uma conclusão científica sobre o que poderia ter impulsionado essa mudança. Novas explicações podem trazer informações fundamentais sobre as mudanças climáticas.

cientistas trabalhando com o gelo
Pesquisas poderão revelar mais sobre a história climática da Terra. (Imagem: ©PNRA/IPEV)

O plano para enviar o gelo à Europa

O desafio agora é levar as amostras à Europa para estudo. Esse esforço será principalmente logístico, já que o material coletado deverá ficar a uma temperatura de -50°C. 

Para atingir esse objetivo, foi elaborada uma estratégia que inclui o projeto de contêineres frigorificados especializados, aliados à programação detalhada dos recursos aéreos e navais do Programa Nacional de Pesquisa Antártid

a. Gianluca Bianchi Fasani, responsável pela logística do projeto, está à frente dessa iniciativa.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.