Pássaros com três personalidades: gene revela segredo da super testosterona; entenda

Cientistas publicaram estudo sobre único gene que regula os níveis de testosterona de espécie de ave que intriga a biologia há tempos
Por André Milhomem Bruno da Silveira, editado por Rodrigo Mozelli 28/01/2025 02h30
Três espécimes de combatentes
Combatente é um pássaro peculiar cujos machos possuem três tipos de personalidade (Imagem: Susan McRae/Simon Fraser University)
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Cientistas da Universidade de Simon Fraser (Canadá) publicaram estudo na Science sobre único gene que regula os níveis de testosterona de espécie de ave que intriga a biologia há tempos. Essa espécie intrigante chama-se Combatente, pássaros que contém característica peculiar: três tipos de machos completamente diferentes um dos outros, conhecidos como morfos.

Esses morfos se diferem em dois pontos principais: a aparência, tanto a coloração, quanto a organização das penas se diferem para cada tipo de macho; e o comportamento quanto ao acasalamento. O novo estudo descobriu a super enzima HSD17B2, que corre no sangue desses pássaros. Ela é capaz de regular os níveis de testosterona nessas aves e pode ser a resposta para existência desses diferentes morfos.

Diferenças de cada tipo de macho com testosterona alterada

“Independentes”

A maioria dos machos são conhecidos como “independentes“. Eles possuem plumagem escura e densa para reprodução e defendem pequenos territórios para acasalamento de forma agressiva para impressionar as fêmeas.

Pássaro macho maçarico-de-bico-branco
“Independentes” têm plumagem branca e comportamento agressivo
(Imagem: Simonas Minkevicius/Shutterstock)

“Satélites”

Existem também os “satélites“, que são menores e têm plumagens de cores mais claras. Eles formam alianças entre si para se co-exibirem para as fêmeas. Porém, cada um tem o objetivo de acasalar com o maior número possível de fêmeas.

Pássaro macho do tipo satélite
“Satélites” contém plumagem mais escura e se unem para se exibirem para fêmeas
(Imagem: Simonas Minkevicius/Shutterstock)

“Travestis”

O terceiro tipo são os “travestis”, que adotam abordagem criativa. Eles não contêm plumagem nem comportamento exibicionista. Na verdade, eles se disfarçam de fêmeas para enganá-las e poderem entrar tranquilamente nas áreas de acasalamento.

A espécie é louca, com três tipos de machos de aparência e comportamento estranhos”, diz David Lank, biólogo da SFU que estuda essas aves há 40 anos e cuja equipe foi a primeira a descobrir as diferenças de testosterona entre os morfos, ao Phys.org. “Esse artigo explica muito sobre os processos genéticos e fisiológicos que controlam o desenvolvimento dos três tipos.”

Pássaro macho sem plumagem
“Faeders” abdicam de sua plumagem para se infiltrarem no meio das fêmeas
(Imagem: Simonas Minkevicius/Shutterstock)

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Influência dessa super enzima nos machos e na testosterona

  • Com isso, é perceptível grande diferença comportamental do primeiro morfo que citamos para os outros dois;
  • O primeiro tem seu comportamento baseado na agressividade, o que convém dado o excesso de testosterona que os outros dois não possuem;
  • Isso é comprovado por meio de estudos anteriores, que mostram que os dois últimos tipos de machos têm muito menos testosterona que o primeiro em seu sangue;
  • Já esse novo artigo identifica o gene exato que produz a super enzima que controla esses diferentes níveis de testosterona por todo corpo, exceto os testículos, pois a testosterona é necessária nos órgãos reprodutores para a formação dos gametas.

Lank diz ainda que a forma especial que o gene se relaciona com o esteroide poderia, até, ser usado para questões terapêuticas em humanos. Mas, para isso, é preciso mais estudos. “O HSD17B2 é de três a quatro vezes mais eficiente na conversão de testosterona em androstenediona”, prossegue o pesquisador. “Isso levanta a possibilidade de tratar pessoas com alguns distúrbios de hipertestosterona com essa forma de enzima, ou uma enzima sintética projetada com base em sua estrutura.”

Nascido em Goiânia, André Milhomem se mudou para São Paulo para ingressar na faculdade Cásper Líbero onde, até hoje, cursa jornalismo.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.