Algoritmos: estamos testemunhando um novo tipo de pensamento?

Assim como o surgimento da fotografia não acabou com a pintura, a criatividade algorítmica não significa o fim da criatividade humana
Por Alessandra Montini, editado por Bruno Capozzi 23/02/2025 07h01
Mãos de humano e de robô espalmadas; entre elas, a representação de uma cabeça humana formada por circuitos e um chip de computador escrito
(Imagem: Kitinut Jinapuck/Shutterstock)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Imagine um artista solitário, pincel na mão, criando uma obra-prima. Agora imagine que, ao invés de um humano, quem segura esse pincel invisível é um algoritmo. Estranho? Talvez. Mas é exatamente o que está acontecendo.

Os algoritmos estão pintando quadros, compondo músicas, escrevendo histórias e até criando piadas. O interesse no uso da Inteligência Artificial tem aumentando nos últimos seis anos e atingido não só as pessoas mas também as organizações, de acordo com estudo da Randstad. Em 2024, 72% das empresas do mundo já adotaram essa tecnologia, um avanço significativo comparado aos 55% em 2023.

Isso significa que as máquinas estão se tornando criativas? Ou será que estamos confundindo padrões complexos com um novo jeito de pensar?

Antes de responder se as máquinas podem ser criativas, precisamos entender o que significa criatividade. No senso comum, ser criativo é conectar ideias de formas inovadoras, encontrar soluções inesperadas e expressar emoções por meio da arte. É um ato humano, não?

Mas se criatividade é apenas a capacidade de recombinar elementos de maneira original, então os algoritmos já são incrivelmente criativos.

O ChatGPT escreve poesias, o DALL·E gera imagens surrealistas e o AlphaGo descobre jogadas nunca antes vistas no Go. Eles fazem isso sozinhos? Não. Mas também não copiam simplesmente o que já existe.

civilização antiga
Essa imagem, por exemplo, foi criada com o DALL-E! (Imagem: Ana Luiza Figueiredo via DALL-E / Olhar Digital)

Um novo tipo de pensamento?

A grande questão é: estamos treinando algoritmos para imitar a criatividade humana ou estamos testemunhando o surgimento de um novo tipo de pensamento?

O processo criativo humano é caótico. O das máquinas, ordenado. Enquanto um escritor pode perder horas divagando antes de encontrar a metáfora perfeita, um algoritmo pode gerar centenas de alternativas em segundos.

E aqui está o ponto: ao contrário dos humanos, os algoritmos não têm bloqueios criativos. Eles não se frustram, não procrastinam, não temem críticas. Eles apenas criam — sem filtro, sem julgamento.

Isso nos leva a um dilema. Se a criatividade está ligada à subjetividade e à experiência humana, então os algoritmos nunca serão realmente criativos. Mas se a criatividade pode ser redefinida como a produção de algo novo e significativo dentro de um contexto, então as máquinas já estão inventando um novo jeito de pensar.

dedos de robô e humano se tocando
Homem e máquina: competição ou união? (Imagem: Adrian Vidal / iStock)

O que vem a seguir?

Ainda não sabemos onde essa evolução vai nos levar. O que sabemos é que os algoritmos não substituirão a criatividade humana, mas a ampliarão.

Assim como o surgimento da fotografia não matou a pintura, e o cinema não enterrou o teatro, a criatividade algorítmica não significa o fim da criatividade humana. Pelo contrário, pode ser o início de uma nova era.

A pergunta final não é se os algoritmos podem ser criativos, mas se estamos prontos para co-criar com eles.

Alessandra Montini
Colunista

Alessandra Montini é diretora do Laboratório de Análise de Dados da Fia Business School.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.