Cemitério antigo revela indícios de interação entre neandertais e Homo sapiens

Neandertais e Homo sapiens não apenas conviviam, como interagiram ativamente, compartilhando tecnologia, hábitos de caça e rituais funerários
Flavia Correia11/03/2025 14h41
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Ilustração representando o Homo sapiens e o Neandertal compartilhando tecnologia e comportamento. Crédito: Efrat Bakshitz via Universidade Hebraica de Jerusalém
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Um artigo publicado nesta terça-feira (11) na revista Nature Human Behaviour revela novas evidências sobre a convivência entre neandertais e Homo sapiens no Levante do Paleolítico Médio – entre 50 mil e 250 mil anos atrás. 

O estudo se baseia em descobertas feitas em um antigo cemitério na Caverna Tinshemet, em Israel, e sugere que esses grupos não apenas coexistiram, como também interagiram ativamente, compartilhando conhecimento, hábitos de caça e rituais funerários.

Em vez de competição constante, os achados indicam um intercâmbio cultural que impulsionou avanços sociais e tecnológicos, como o uso simbólico de pigmentos minerais e a realização de sepultamentos elaborados.

Seção exposta de sedimentos arqueológicos datados de 110 mil anos atrás na caverna Tinshemet. Crédito: Yossi Zaidner

A Caverna Tinshemet abriga os primeiros enterros do Paleolítico Médio descobertos na região em mais de 50 anos. Desde 2017, pesquisadores liderados pelo arqueólogo Yossi Zaidner, da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, investigam o local em busca de pistas sobre a relação entre neandertais e Homo sapiens. 

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Coexistência entre neandertais e Homo sapiens foi colaborativa

Eles analisaram aspectos como a fabricação de ferramentas, as estratégias de caça, o uso de símbolos e a complexidade social. As evidências sugerem que diferentes grupos humanos da época interagiam de forma significativa, transmitindo conhecimentos e influenciando mutuamente suas culturas. Essas interações podem ter acelerado o desenvolvimento de comportamentos sofisticados, como a prática sistemática de rituais funerários.

Uma das descobertas mais intrigantes é o uso de ocre, um pigmento mineral que provavelmente era aplicado no corpo ou nos objetos. Isso sugere que esses povos já valorizavam a identidade cultural e a diferenciação entre grupos, indicando um nível avançado de pensamento simbólico.

A presença de diversos enterros no mesmo local levanta a hipótese de que a caverna poderia ter sido usada como um cemitério. Os pesquisadores encontraram artefatos enterrados junto aos corpos, incluindo ferramentas e ossos de animais, o que pode indicar crenças em uma vida após a morte ou práticas rituais consolidadas.

Artefato lítico da Caverna Tinshemet feito com tecnologia compartilhada entre Homo sapiens e Neandertais. Crédito: Marion Prévost

Para Zaidner, o Levante funcionava como um “caldeirão” de encontros humanos, onde diferentes populações se misturavam e evoluíam juntas. Em um comunicado, Marion Prévost, coautor do estudo, destaca que as condições climáticas da época favoreceram a expansão demográfica e intensificaram o contato entre esses grupos.

Israel Hershkovitz, também membro da equipe, reforça que essas interações não se limitavam à troca de objetos, mas envolviam mudanças nos estilos de vida e estratégias de sobrevivência. “A coexistência entre neandertais e Homo sapiens pode ter sido mais colaborativa do que se imaginava, moldando o futuro da humanidade”.

As escavações na Caverna Tinshemet continuam e podem revelar mais detalhes sobre as origens das sociedades humanas. As descobertas feitas até agora fornecem uma nova perspectiva sobre a história dos nossos ancestrais e o impacto das interações entre diferentes grupos na evolução cultural e tecnológica.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.