China cria chip um quadrilhão de vezes mais rápido que supercomputadores potentes

Novo chip protótipo de 105 qubits, apelidado de “Zuchongzhi 3.0”, utiliza qubits supercondutores e representa avanço significativo na computação quântica
Por Rodrigo Mozelli, editado por Bruno Capozzi 13/03/2025 20h58, atualizada em 14/03/2025 21h11
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Um novo protótipo de processador quântico supercondutor alcançou resultados de benchmark que rivalizam com os da nova QPU Willow, do Google.

Pesquisadores na China desenvolveram uma unidade de processamento quântico (QPU, na sigla em inglês) que é um quadrilhão (10¹⁵) de vezes mais rápida que os melhores supercomputadores do planeta.

Foto do criostato contendo o processador Zuchongzhi 3.0
Foto do criostato contendo o processador Zuchongzhi 3.0 (Imagem: USTC)

O novo chip protótipo de 105 qubits, apelidado de “Zuchongzhi 3.0”, que utiliza qubits supercondutores, representa avanço significativo na computação quântica, segundo cientistas da Universidade de Ciência e Tecnologia da China (USTC, na sigla em inglês), em Hefei (China).

Ele rivaliza com os resultados de benchmark estabelecidos pela mais recente QPU Willow do Google, em dezembro de 2024, que permitiram aos pesquisadores reivindicar a supremacia quântica — ou seja, demonstrar que os computadores quânticos podem superar os supercomputadores mais rápidos — em testes laboratoriais.

Leia mais:

Como a China criou chip quântico superpoderoso

  • Os cientistas utilizaram o processador para concluir uma tarefa no amplamente usado benchmark de amostragem de circuitos quânticos aleatórios (RSC, na sigla em inglês) em apenas algumas centenas de segundos, conforme detalhado em estudo publicado em 3 de março na Physical Review Letters;
  • Esse teste, que consistiu em tarefa de amostragem aleatória de circuitos com 83 qubits distribuídos em 32 camadas, foi completado um milhão de vezes mais rápido do que o resultado estabelecido pelo chip Sycamore, da geração anterior do Google, divulgado em outubro de 2024;
  • Em contraste, o Frontier, o segundo supercomputador mais rápido do mundo, levaria 5,9 bilhões de anos para realizar a mesma tarefa.

Embora os resultados sugiram que as QPUs são capazes de atingir a supremacia quântica, o benchmark RSC utilizado favorece os métodos quânticos.

Além disso, melhorias nos algoritmos clássicos que impulsionam a computação tradicional podem reduzir essa vantagem, como ocorreu em 2019, quando os cientistas do Google anunciaram, pela primeira, vez que um computador quântico havia superado um computador clássico — durante a primeira utilização do benchmark RSC.

Ilustração mostra um chip quântico
Ilustração de chip quântico (Imagem: archy13/Shutterstock)

Repercussão do novo chip

O Olhar Digital conversou com Daniel Haro, Head de Tecnologias Emergentes do Venturus. Confira a análise:

Sem dúvida é uma conquista muito interessante dos chineses. Acredita-se, pois não se tem confirmação oficial dos dados, que a China é o país que mais está investindo em computação quântica na atualidade, com uma estimativa de mais de US$ 15 bilhões até o começo de 2025. Lembrando que esse investimento começou no final da década de 90.

Porém, deve-se tomar cuidado quando se anuncia que uma determinada QPU alcançou a supremacia quântica, que é quando um computador quântico faz uma tarefa tão bem, que nenhum super computador clássico conhecido seria capaz de alcançá-lo.

Uma ideia errada pode estar sendo passada para o público que não conhece o termo. Uma das questões é a relevância do problema resolvido, que não é considerado para se determinar a supremacia.

O RCS (random circuit sampling) por exemplo, que está sendo usado como benchmark de supremacia quântica, é um problema totalmente irrelevante para a humanidade. Ele serve basicamente para testar e mostrar a capacidade de resolver esse tipo de problema pelo próprio processador quântico, ou seja, não muda a vida de ninguém a não ser que você seja o próprio desenvolvedor do processador quântico.

E sem uma explicação do problema, fazer esse tipo de comparação com um computador clássico pode passar uma idéia errada, de que o computador quântico é uma bala de prata e que vai acabar com o computador clássico. Na verdade, isso está longe de acontecer – isso se algum dia acontecer.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.