Ártico: o primeiro ‘dia sem gelo’ pode estar próximo

Cientistas explicam que a região desempenha um papel vital nas temperaturas globais e nos sistemas climáticos
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 14/03/2025 05h10, atualizada em 17/03/2025 20h55
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O aumento das temperaturas do planeta já causa efeitos claros no Ártico. De acordo com cientistas, a região vem aquecendo cerca de quatro vezes mais rápido do que a média global, o que pode deixar o local sem gelo num futuro próximo.

Em fevereiro deste ano, partes do Ártico registraram temperaturas de até 20ºC acima do normal. Além disso, o gelo marinho atingiu o nível mais baixo já registrado no período, marcando o terceiro mês consecutivo de baixas recordes.

Região desempenha um papel vital nas temperaturas globais

Um relatório da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos aponta que o Ártico agora existe dentro de um “novo regime”, onde sinais como perda de gelo marinho e temperaturas oceânicas nem sempre quebram recordes, mas são consistentemente mais extremos em comparação com o passado.

Já um estudo da Universidade de Hamburgo destaca que a região ficará ‘sem gelo’ no verão em algum momento até 2050. Pior do que isso: o primeiro dia ‘sem gelo’ pode acontecer ainda antes do final desta década.

Colocamos a expressão ‘sem gelo’ assim, entre aspas, porque precisamos trazer uma explicação mais técnica. Não é que o gelo do ártico vai sumir. Mas ele ficará abaixo do limite mais ‘aceitável’ pela Ciência.

Espera-se que uma transição para um Oceano Ártico que regularmente tenha uma área de gelo marinho de menos de 1 milhão de quilômetros quadrados (comumente usado como o limite sem gelo) no verão tenha efeitos em cascata no resto do sistema climático (…) As projeções atuais de modelos climáticos sugerem que a primeira área média mensal de gelo marinho (SIA) de setembro igual ou inferior a 1 milhão de quilômetros quadrados pode ocorrer até 2050, mas as previsões de um Ártico sem gelo têm grandes incertezas, devido a vieses do modelo e variabilidade interna. No entanto, antes que a média mensal de setembro atinja o limite sem gelo, veremos um primeiro dia sem gelo com uma SIA de 1 milhão de quilômetros quadrados ou menos.

Pesquisa publicada na revista Nature Communications . Heuzé, C., Jahn, A. O primeiro dia sem gelo no Oceano Ártico pode ocorrer antes de 2030. Nat Commun 15 , 10101 (2024). https://doi.org/10.1038/s41467-024-54508-3
Derretimento do Ártico vai gerar consequências globais (Imagem: Trismegist san/Shutterstock)

Os cientistas alertam que este é um problema com consequências globais. O Ártico desempenha um papel vital nas temperaturas globais e nos sistemas climáticos. Seu declínio acelera o aumento do nível do mar.

Além disso, o gelo marinho age como um espelho gigante, refletindo a luz do sol para longe da Terra e de volta para o espaço. À medida que encolhe, mais energia do sol é absorvida pelo oceano escuro, que acelera os efeitos das mudanças climáticas.

Leia mais

Degelo amplifica efeitos das mudanças climáticas (Imagem: Aphelleon/Shutterstock)

Situação no Ártico pode causar desequilíbrio climático global

  • Outro ponto de alerta são os incêndios florestais cada vez mais frequentes e intensos.
  • Estes fenômenos estão alterando o ecossistema.
  • Por milhares de anos, a paisagem arbustiva da tundra ártica armazenou carbono, mas as chamas e o degelo do permafrost estão fazendo com que esta região agora libere mais carbono do que armazena.
  • Isso significa que o gelo terrestre derrete mais rápido, aumentando o nível do mar.
  • O rápido aquecimento na região também enfraquece a corrente de jato, alterando os sistemas climáticos que afetam bilhões de pessoas.
  • Isso faz com que as condições climáticas durem mais, levando a ondas de calor mais persistentes, por exemplo.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.