Se a corrente oceânica mais forte do mundo ‘quebrar’, teremos problemas

Nos últimos anos, tem havido um crescente consenso científico de que as correntes oceânicas estão enfrentando verdadeiro um colapso
Por Flavia Correia, editado por Bruno Capozzi 07/04/2025 11h08, atualizada em 09/04/2025 01h11
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Parte vital do sistema climático da Terra, o oceano atua como um grande regulador de temperatura e armazém de dióxido de carbono (CO2). Suas correntes transportam calor e gases entre regiões, mantendo o planeta em equilíbrio.

No entanto, esse equilíbrio pode estar ameaçado. Cientistas alertam que a Corrente Circumpolar Antártica (ACC), a corrente oceânica mais forte do mundo, pode desacelerar em até 20% até 2050 se as emissões de carbono continuarem altas.

Em poucas palavras:

  • O oceano regula o clima e armazena CO₂, com correntes que equilibram a temperatura global;
  • A Corrente Circumpolar Antártica (ACC) isola a Antártida, bloqueando águas quentes e protegendo o gelo polar;
  • O derretimento do gelo libera água doce, enfraquecendo a corrente;
  • Com emissões elevadas, a ACC pode desacelerar 20% até 2050;
  • Uma ACC mais fraca acelera o degelo e favorece espécies invasoras;
  • Isso reduz a absorção de CO₂ e calor, agravando o aquecimento global e o aumento do nível do mar.

A ACC é uma força invisível que circula o continente antártico e conecta os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Sua função é manter a Antártida isolada, impedindo que águas mais quentes cheguem ao polo sul.

Essa corrente é mais de 100 vezes mais forte que o rio Amazonas e cinco vezes mais intensa que a Corrente do Golfo. Ela atua como uma muralha líquida que protege o gelo antártico e os ecossistemas ao seu redor.

Aquecimento global enfraquece a corrente oceânica

Nos últimos anos, cientistas têm debatido se o aquecimento global estaria acelerando ou desacelerando a ACC. A teoria inicial era de que o aumento da temperatura faria a corrente ganhar força.

Contudo, um novo estudo, publicado na revista Environmental Research Letters, mostra o contrário. Usando modelos avançados de circulação oceânica, os pesquisadores concluíram que o derretimento do gelo da Antártida pode estar enfraquecendo essa corrente.

Quando o gelo derrete, libera grandes volumes de água doce e fria nos mares polares. Essa água dilui a salinidade e muda a densidade do oceano, dificultando o fluxo da ACC e desacelerando seu ritmo natural.

Imagem da Corrente Circumpolar Antártica obtida pela missão Grace, da NASA. Crédito: NASA / JPL-Caltech

Esse enfraquecimento pode iniciar um ciclo perigoso. Com a corrente mais lenta, águas mais quentes conseguem avançar em direção à Antártida, acelerando ainda mais o derretimento das calotas de gelo.

Além disso, uma ACC mais fraca pode permitir a chegada de espécies invasoras ao continente gelado. Plantas marinhas, como certas algas, poderiam alterar profundamente a delicada cadeia alimentar da região.

Desaceleração da ACC intensifica as mudanças climáticas

No restante do planeta, as consequências também seriam sentidas. Uma corrente oceânica mais lenta reduz a capacidade do oceano de absorver calor e CO2 da atmosfera, acelerando ainda mais as mudanças climáticas.

O derretimento adicional de gelo contribuiria diretamente para a elevação do nível do mar, ameaçando comunidades costeiras e ecossistemas frágeis em todo o mundo.

Os cientistas ainda não sabem exatamente quanto a ACC vai desacelerar nem em quais áreas. Mas há consenso de que o impacto será real e significativo caso as emissões de carbono não sejam controladas.

Enquanto o derretimento na Antártida Ocidental pode ser irreversível, a região oriental ainda pode ser preservada com ações rápidas. A chave está na redução drástica dos gases de efeito estufa.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.